quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

DA LEITURA NAS FÉRIAS

Na leitura de "Eu, Cláudio, Imperador", de Robert Graves, em tradução de Mario Quintana (terceira edição, 1962), deparo com uma passagem que me fez lembrar a frase "Se a lenda é mais interessante que a realidade, publique-se a lenda", do filme "O Homem que Matou o Facínora", de John Ford, estrelado por John Wayne. A situação semelhante se deu na autobiografia de Claudius, onde há o relato de um diálogo entre o célebre historiador Tito Livio e o não menos importante personagem Asinius Pollo, do qual eu nunca havia tomado conhecimento.
  Os dois historiadores discutiam estilos de narrativa histórica. Pollo acusava Tito Livio de falsear a história, que, para Pollo, deve uma narrativa exata dos fatos, dos feitos dos homens, sobre o que fizeram e disseram, da maneira como viveram e morreram. O argumento de Tito Livio me chamou atenção para a questão de muitos, principalmente nos dias de hoje, preferirem a lenda aos fatos.
- Adoto de bom grado todos os episódios legendários que se ligam ao meu assunto: a grandeza antiga de Roma - se ele não são verdadeiros em detalhe, certamente o são em espírito. Quando encontro duas versões do mesmo episódio, escolho a que mais se aproxima do meu objeto. Não vou escavar os cemitérios etruscos para descobrir uma terceira versão que talvez contradiga as outras duas, para quê?
- Para servir a causa da verdade - disse Pollo. Ao comentar o fato, me vêm à mente historiadores brasileiros, alguns deles ufanistas e simplesmente copiadores de outros historiadores e principalmente, os políticos. Para estes, os correligionários do presente e o passado primam ou primaram pelo heroísmo e pelas ações em favor do povo quando, na verdade, tomaram decisões apenas com o objetivo de beneficiar a si mesmos ou ao seus parentes e amigos.
  

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