domingo, 29 de novembro de 2015

REFLEXÃO EM MAIS UM DOMINGO DE FOLGA

Ser feliz, em qualquer idade, é entender que a vida humana segue um ciclo como acontece com tudo o que nos rodeia. Metaforicamente, o Sol nasce, brilha em momentos em que não há nuvens espessas, e morre. E ressuscita no dia seguinte para repetir incansavelmente a sua saga, de leste a oeste pelo céu. Isso ocorre relativamente aos nossos olhos e outros sentidos. Porque ele segue vivo, fazendo a sua performance no outro lado do mundo.
Ser feliz é viver entendendo que a gente não tem capacidade para compreender tudo e que o negócio é conviver com o que se sabe de útil, procurando, sem angústias, mais informações. É concordar com Sócrates, o pensador grego, não o jogador de futebol, que tinha consciência de que havia infinitamente muito mais coisas que ele desconhecia. Há que acreditar em algo sem se deixar levar por falsos profetas ou supostos líderes com seus interesses egoístas escondidos.
A única coisa clara, cristalina, é o fim do ciclo, que chamamos morte e que se dá, inevitavelmente para tudo o que nos cerca. O templo de duração de cada vida, seja humana ou não, é que varia e, se há recomeços e motivos, ou não, isso é um mistério que o ser humano talvez nunca descubra.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

REFLEXÕES NA MADRUGADA

Não há tristeza que resista nem obstáculo que paralise quando te negas a te recolher ao casulo antes isolador do que consolador. A frase do espanhol Ortega Y Gasset de que "o homem é ele e sua circunstância" é perfeita. Quem convive com pessoas alegres ainda que tenham motivos para ficar tristes, acaba ficando feliz também. Uma dessas pessoas é o dono de uma fruteira do meu bairro. Ele e o irmão, Roque, são descendentes e italianos, mas os vizinhos chamam o estabelecimento de "Fruteira dos Alemão". Natural de Lajeado, José Inácio já foi assaltado, levou tiro na altura da coluna, passou um período em cadeira de rodas e hoje usa muletas. Mesmo lamentando o temor de trabalhar sem segurança, na tensão e no medo de ser novamente assaltado, tem sempre um sorriso e uma palavra amiga para os clientes. E, para os palhaços como eu, sempre uma piada e a espera de outra piada. Ontem de manhã, me contou esta, que eu já conhecia, mas eu ri de novo.
"Sujeito deu carona a uma bela mulher na saída de Porto Alegre. No meio do caminho, ela levantou um pouco a saia, que já era curta, mostrando as belas pernas.Ele não resistiu: simulou que ia fazer uma mudança no câmbio e botou a mão em uma das pernas dela. A jovem sorriu e disse:
- Se quiseres, podes ir mais longe.
Quando ela se deu conta, já haviam passado de Torres, já na divisa com Santa Catarina.

domingo, 22 de novembro de 2015

REFLEXÃO NA MANHÃ DE GRE-NAL

Uma das coisas que noto em alguns seres humanos é a incoerência e a incapacidade de observar o que está fora do perímetro do seu próprio umbigo. A pessoa diz que ama os cães e tão logo o seu time conquista um título ou o seu adversário perde, sai a soltar foguetes. Se você me perguntar o que uma coisa tem a ver com a outra, você é uma dessas pessoas. Ou não.

UMA HISTÓRIA DE AMOR E DE TRAGÉDIA

Dois anos depois que ele havia sofrido o maior revés da sua vida amorosa ao se separar da mulher, por conta de tantos desencontros, mantinha-se firme no seu propósito de não mais se apaixonar nem se envolver em qualquer relacionamento. Sua cota de confiança nas mulheres era mínima. Até o dia em que passeava pelo aeroporto e se encantou com uma funcionária de uma locadora de automóveis.
  Ontem, ao ver um avião cruzando o céu sobre o pátio de casa, lembrou-se de uma das mulheres que mais o marcaram. Seu pensamento voltou-se para aquele dia em que a viu pela primeira vez. Morena, um pouco tímida, olhos claros, lindos, cabelo preto, crespos. não curtos nem compridos, magra, mas não muito, a jovem o tocou tão profundamente que ele decidiu transformá-la no novo amor da sua vida, abdicando daquela decisão inicial de nunca mais experimentar um relacionamento. A primeira ideia foi abordá-la diretamente, mas ficou com medo de ser rejeitado. Afinal, na única vez que ela o viu, não demonstrou qualquer sentimento que não fosse o de uma funcionária de uma empresa a um possível cliente. Por isso, tratou um plano diferente e ousado. Se iria dar certo ou não, só a tentativa responderia. Antes isso, por alguns dias, foi se informando sobre ela. Notou que não usava alianças, deduzindo que não era casada nem noiva. Nem lhe passou pela cabeça que pudesse não dar bola para convenções. Também percebeu que nenhum homem a esperava à saída do trabalho, exceto um jovem bem mais moço do que ela. Como os dois eram muito parecidos, concluiu que o rapaz era irmão dela.
 No dia em que o plano seria executado, ele tomou o banho mais bem tomado de sua vida, o mais longo e o mais cuidadoso possível. Fez a barba com esmero penteou o cabelo, repartindo-o para o lado direito e perfumou-se com discrição e caprichou no desodorante. Escovou os dentes com galhardia, ou melhor, com a pasta da melhor qualidade que encontrou. 
Antes de chegar ao aeroporto, passou em uma floricultura e escolheu um ramalhete com as mais belas gérberas que havia. Pegou um cartão e colocou um nome que escolhera ao acaso, torcendo que não coincidisse com o nome dela, que ainda desconhecia. No cartão, escreveu duas frases caprichando na caligrafia e na gramática.
"Marina,
Já que decidiste sair mesmo da minha vida, leva estas flores como uma última e boa lembrança minha. Se quiseres voltar, sabes que o meu telefone é (51) xxxx-xxxx." No banheiro do aeroporto, treinou por alguns minutos uma fisionomia de surpresa antevendo o que aconteceria. Depois, conferiu e revisou sua aparência e vestimentas e olhou outra vez para o espelho na despedida. A sua imagem repetida dublou o som de sua voz que deixava um incentivo:
- Vai que é tua, Taffarel  - lembrando-se da Copa do Mundo.
  Tenso, foi ao saguão principal e a viu em um canto. Ela recém havia saído da locadora e se preparava para ir embora. Ele chegou pelas costas dela e enlaçou-a com a mão direita, segurando o buquê de flores na esquerda e a beijando no pescoço. Assustada, ela se desvencilhou dele e desferiu-lhe um tapa no rosto. Ao mesmo tempo, ela estranhou a cara de surpresa que ele fez. Ele então pediu-lhe desculpas e alegou que a confundira com uma pessoa extremamente parecida com ela, mesmo tipo de cabelos e roupas. As flores e o tom do pedido de desculpas a levaram a entender que havia mesmo ocorrido um engano.
      Ele afirmou que havia ido ao aeroporto para se despedir de uma ex-namorada. Acrescentou que, diante do lamentável equívoco e do seu constrangimento, entregou a ela o ramalhete de flores dizendo que ficara desconcertado e que desistira de fazer a despedida que pretendia. Ela segurou as flores e ficou estática por alguns segundos, enquanto ele saía rapidamente do local.
  Em casa, à noite, diante do espelho, ele apalpava o rosto e sorria ao olhar o vermelhão que o tapa lhe produzira e ficou feliz porque era algo dela que ficara com ele. Mais tarde, depois de ler e reler o cartão, ela decidiu telefonar. A primeira palavra que ela falou foi "desculpa", os dois conversaram e marcaram um encontro no dia seguinte. Um mês depois, decidiram "juntar os trapinhos" como ela disse, relembrando os tempos em que morava em São Gabriel. Os dois fizeram questão, porém, de uma cerimônia simples, apenas para familiares. Nesse dia, ela disse uma frase marcante: "Vamos ser felizes até que a morte nos separe". E ela estava certa. Seis anos depois, no dia 17 de julho de 2007, ela viajou para São Paulo para visitar uma tia. Pouco depois das 19h, ele viu o noticiário da televisão informando que o voo 3054 da TAM terminara em acidente, ao aterrissar na capital paulista com 187 pessoas a bordo. Nenhuma sobreviveu.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

REFLEXÕES EM UMA MANHA CHUVOSA

Uma pessoa sábia é aquela que compra um guarda-chuva na bela manhã e sol subsequente ao temporal que destruiu seu equipamento protetivo. É a mesma pessoa que reconhece a importância dos bombeiros mesmo em cidades onde não são comuns os grandes incêndios. Se não há tragédias, possivelmente seja resultado do trabalho correto de prevenção.

domingo, 8 de novembro de 2015

AVOLICES DE NOVEMBRO

Minha neta vai crescendo e mudando a forma de me deixar sem respostas para algumas perguntas. Agora, aos 10 anos, vive pra lá e pra cá com um dicionário. Hoje veio me mostrar o que significa gêmeos e a fruta toranja. De repente, me chamou e disparou uma das suas perguntas mais complicadas:
- Vô! Se Deus criou as pessoas e todas as coisas, quem criou ele? Ele mesmo?
Pensei um pouquinho e respondi sem nenhuma convicção:
- Não sei, Luísa. Quem sabe foi outro Deus.