segunda-feira, 30 de abril de 2012

DIGA NÃO À "INDÚSTRIA DE MULTAS"


Se você é daqueles que estão indignados com a chamada "indústria da multa", então você é a pessoa certa para aderir à campanha que podemos lançar. Acabaremos certamente com a indústria da multa se todo mundo concordar com o seguinte plano:
   Vamos sacanear os azuizinhos ou seja lá que nome tenham os fiscais de trânsito em todo o país. A ideia é surpreendê-los e deixá-los boquiabertos se cumprirmos a seguinte estratégia:
   A partir de amanhã, vamos seguir rigidamente todas as regras. Quero ver a cara que os azuizinhos vão fazer se nenhum de nós dirigir em velocidade proibida. Não vai adiantar eles se esconderem, implantarem pardais, postarem um fiscal atrás de uma árvore ou aparecerem de repente. Aqui pra eles, ó!
   A partir de amanhã, nenhum de nós vai ultrapassar um sinal vermelho, nem estacionar em lugar proibido. Deixar o carro em vaga destinada a deficiente ou o idoso, se não tivermos nenhuma deficiência ou idade acima de 60 anos, nem pensar. Eles vão ficar loucos.
   A partir de amanhã, vamos ter calma na hora de ultrapassar. Sem essa de fazer ultrapassagem sem segurança, em uma curva ou ponte. É claro que isso vai fazer com que os acidentes diminuam, que menos pessoas morrerão mas, mais importante do que isso, é impedir a continuidade dessa "injusta indústria das multas".
   A partir de amanhã, vamos andar sempre em dia com a carteira de motorista e os documentos do carro. Vamos ver como reagem ao saber que não poderão multar nem dar aula de trânsito ou de conduta.
   A partir de amanhã, não vamos esquecer de usar o cinto de segurança, mesmo que seja em um trajeto curto, e colocar as crianças pequenas no banco traseiro, em cadeirinha ou elevações de assento. Não vamos buzinar diante de hospital nem fazer qualquer retorno proibido.
   Se estivermos a pé, vamos respeitar os sinais na hora de atravessar e só cruzar na faixa de segurança. E, se formos multados injustamente, vamos reagir, denunciar o funcionário incompetente, fazer um auê. Diga não à "indústria de multas".

sexta-feira, 27 de abril de 2012

ALGUMAS MUDANÇAS ORTOGRÁFICAS NÃO PRECISARIAM TER SIDO FEITAS

Não sou conservador ao extremo, mas não gosto de mudar só por mudar. Uma das reformas ortográficas que jamais aceitei foi a que se efetivou em 1971, retirando acentos diferenciais das palavras. Não me importo com a eliminação do circunflexo em coa, pera e alguns outros. Mas não consigo aceitar que palavras como gosto (sabor), sede (falta de água), corte (local onde moravam os reis e nobres) e muitos outros fiquem sem acento. Se eu não colocasse o significado entre parênteses, você não saberia sobre qual palavra eu estaria falando, já que poderia estar me referindo ao verbo gostar (gosto), ao local principal de uma empresa (sede), ou ao substantivo (corte) que significa redução ou decepamento.

   Alguém que apoia essas mudanças poderia argumentar: ah, mas é só observar o sentido da frase. Mas é aí que eu me refiro: e quando não é frase, é só uma expressão que fica ambígua? Quer exemplos? Há alguns anos, o jornal Zero Hora colocou um título que dizia: Corte no carnaval de Caxias. O que você lê? Que houve uma diminuição de verbas na festa de momo da região serrana? Ou que o Rei Momo e suas princesas foram prestigiar a folia de Caxias do Sul (essa era a notícia).
   Diante dessa aberração praticada pelas sumidades da gramática brasileira, fico com pena dos locutores de rádio e apresentadores de tevê que precisam ler alguma frase ou expressões dessas ao vivo. Imagine um cartaz assim surgido, de repente, no meio da torcida ou na rua.
   Nesta semana, ao pesquisar dados sobre a Feira do Livro de Porto Alegre, deparei-me, na lista de uma tarde de autógrafos de uma das edições, com o seguinte título: Gosto de Vermelho, de Sandra Hervê Chaves Barcellos. Sem ler o livro, como saber se é gôsto ou gosto? Mais difícil ficaria se o nome do livro fosse Gosto de Chocolate.
   Já na reforma mais recente, que vigora desde 2011, fiquei indignado com a retirada do acento em para, do verbo parar. Imagino como se leria um título de jornal como este: Victor para a seleção. Seria uma sugestão de levar o goleiro do Grêmio para o selecionado brasileiro ou o resultado da atuação do arqueiro que não deixou a Seleção Canarinho marcar gols?
   Param mim, as regras gramaticais e ortográficas existem exatamente para tornar mais fácil e imediato o entendimento. Essas mudanças serviram exatamente para dificultar a comunicação e para promover os autores das modificações. Também em 1971, a nova lei ortográfica retirou o acento da palavra forma. Mais tarde, os dicionaristas reconheceram a burrada e passaram a aceitar o acento. Na nova regulamentação, são aceitas as duas opções, o que é um absurdo. Imagine se eu quiser escrever: Até agora não sei qual é a forma da forma! Ora, façam-me o favor... A vontade que eu tenho é continuar escrevendo como se não tivesse mudado.

Mais sobre confusões ortográficas em http://migre.me/8RAPU
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sábado, 21 de abril de 2012

UM ENCONTRO INTERESSANTE NA FEIRA

Manhã de sábado, na Feira Livre do Bairro Medianeira, uma surpresa para lá de agradável: depois de quase um ano sem vê-la, lá estava ela, do mesmo jeito que a vi no ano passado. Durante todo o quente e longo verão, senti sua falta. Cheguei a procurá-la, mas nem sinal dela. Ao revê-la, fiquei de novo impressionado e pensei imediatamente: vou comê-la. A vontade era desnudá-la ali mesmo e desfrutá-la. Por fim, decidi levá-la para casa. E então falei para o atendente da banca de frutas: “Pese esse saco de bergamotas.”

quinta-feira, 19 de abril de 2012

SE FOR "BEBÊ", NAO DIRIJA


  Originalmente o texto abaixo era para ser interpretado em um vídeo na época do Natal. Mas não consegui viabilizar a gravação. Foi mais por preguiça e falta de talento do que qualquer outra coisa. Daí que resolvi postar esse, digamos assim, libelo contra a mistura do álcool com direção.

Olá, é pro Fantástico? Ah, não? E qual o tema? Beber e dirigir? É o seguinte. Eu acabei de tomar todas e vou dar um rolê de carro pra me divertir.
   Se não tenho medo de que o álcool afete a minha capacidade de dirigir? Que nada! Sou um homem forte, que não se abate, criado na campanha no lombo do cavalo, segurando o bicho pelo freio ou pelas crinas. Domino meu carro também. Sou valente. Aliás, o Zeca Pagodinho disse que a bebida é um dos inimigos do homem e que um homem que foge dos seus inimigos é um covarde.
   Mas como é dirigir alcoolizado nesse trânsito? Te disseram que eu ando em zig e zague na rua? Além de fofoqueiros, esses caras que andam atrás de mim são uns barbeiros. Se eu tô no zig, é só eles irem pro zague. Se fui pro zague, eles vão pro zig, é simples. Hoje eu ouvi no rádio Se for bebê, não dirija. Mas eu não sou bebê, sou um adúltero que sabe o que faz. Mas vamos lá que a noite ainda é uma criança. Péra aí. Se a noite é uma criança, ela pode ser um bebê e então a noite não pode dirigir. Opa, agora fiquei confuso.
   Se tenho consciência de que posso cometer um acidente? Claro. Bater em um poste, por exemplo. Tá cheio de postes mal alinhados na cidade. A gente sai de uma curva e, quando vê, dá de cara num poste. Mas não dá nada. Meu carro tem “albergue”. O ator aquele da Globo que caiu de carro no arroio Dilúvio no ano passado, disse que o”arbergue” é tudo. Que todo carro deveria ter “arbergue”.  
   Eu concordo com o Bento Gonçalves. Eu acho até que os postes deveriam ter “albergue” pra não estragar meu carro. O Werner Schsss., o Bento, disse que o cinto de segurança é uma bosta. Aí eu não concordo. Não dá pra pôr cinto de segurança em poste, porque ele fica parado, mas o cinto é bom. Acho até que as cadeiras de bar deveriam ter cinto de segurança com um dispositivo que só o libera se estiver apto a dirigir. Aí o garçom passa um cartão na saída se o cara apresentar um amigo para dirigir pra ele ou levá-lo de carona ou pedir um táxi.
   Eu posso atropelar alguém ou algo? Poder eu posso, até sem beber. Por exemplo, na época de Natal, o peru foge do perueiro para escapar da panela. A avezinha cruza, a rua e eu pá nela. O pessoal que defende os animais iria querer me capar, e com razão. Não se deve maltratar os animais, mesmo que aquele peru estivesse indo para ser morto e depois comido na ceia de Natal. Mas sou contra judiar dos bichinhos. Eu, por exemplo, tenho lá em casa, um cachorro, não, não é o meu cunhado. É o Bolt, quero mandar aqui um abraço pra ele. Bolt, um Feliz Natal e um próspero ano novo. Que tu tenhas boa ração e um osso duro pra roer.
   E se eu atropelar uma pessoa? Imagina, o cara atropela a pessoa que está a pé ou de carro num acidente e ela morre. Que tristeza que vai ser? Aí eu fico pensando. Sou um homem ou um rato. Já tomei uma decisão. Não vou mais comer queijo. Mas, pensando melhor, se eu participar de uma morte ou mais, vou estragar a minha vida e da minha família. Além de causar uma tragédia em outras famílias, posso morrer também ou ir para um hospital causando transtorno para os meus parentes. Ou então ser condenado e preso.
   Quer saber, não vou mais sair de carro depois de beber. Essa chave aqui nem é do meu carro é do portão da minha casa. Nem sei onde é que deixei a chave do carro. Me faz um favor aí. Me chama um táxi que eu vou é dormir.