O Amigomeu é uma figura. Um primo meu de Porto Alegre apareceu um dia lá nos Campos do Seival com um binóculo bem moderno e superpotente. Amigomeu tinha uns dez anos e ficou extasiado diante daquela maravilhosa tecnologia. Ele já tinha ficado dois dias sem parar olhando funcionar a máquina de debulhar milho a manivela. Imaginem, dizia e repetia, entra uma espiga inteira por um buraco, a gente dá manivela e sai nos outros dois buracos, separados, os grãos de milho e o sabugo.
Voltando ao binóculo, Amigomeu passou a manhã inteira olhando a propriedade. Viu lá longe, num canto, o alambrado com defeito, viu passarinhos comendo piolhos no lombo das vacas, viu os quero-queros voando e fazendo alarido em um lado pra não descobrirem que o ninho estava para outro. Viu preás caminhando pelas estradinhas do campo. Viu perdizes andando no chão e voando subitamente num voo curto ao pereceberem a aproximação de alguém.
E então o meu primo comentou com ele:
- Este equipamento é tão fantástico que traz a pessoa pra pertinho da gente.
Amigomeu arregalou os olhos, pegou o binóculo e focou la longe, na beira do ruo Jaguarão do Meio, perto da ponte que divide os limites de Seival com Hulha Negra. Ali estava o irmão mais velho dele, pescando. Com voz em tom normal, Amigomeu falou pro irmão:
- Getúlio. Vem pras 'casa', que a mãe tá te chamando pra almoçar.
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