Antes de mais nada, quero dizer que adoro Porto Alegre. Mas
sou obrigado a revelar que me sinto um pouco incomodado quando saio às ruas.
Começa com esse monte de obras que atrapalha o trânsito já tão caótico por si
mesmo. Nunca vi uma lerdeza tão lerda. Essas obras se arrastam de forma
impressionante, descumprindo todos os programas, os contratos, irritando principalmente os moradores desses locais.
Sinto a mesma coisa
quando ando pelo Centro. Não preciso me esforçar tanto para encontrar coisas
incompreensíveis. Nem quero saber quem são os responsáveis, se municipais,
estaduais ou federais. Não me prendo a politicagens. Inicio com a ponte do
Guaíba, inaugurada em 28 de dezembro de 1958. É uma ponte que separa em vez de
unir, se lembrarmos quantas vezes o vão móvel foi levantado para permitir a
passagem de navios, interrompendo o trânsito de veículos. Quando criada, 55
anos atrás, quem a idealizou sequer pensou na utilização mais intensa do Guaíba
para navegação de transporte. Nesses anos todos, os administradores não
concretizaram uma nova ponte mais prática e mais moderna. Como em outras eras,
surgem agora anúncios de construção de uma nova travessia, que, se sair do
papel, permitirá a passagem de navios sem prejudicar o trânsito. Daqui a pelo
menos 20 anos.
Bem no Centro, vejo
o Mercado Público com uma parte do andar superior interditada devido ao
incêndio de 6 de julho de 2013. Quatro meses depois do sinistro, nenhum
movimento de recuperação total de um dos prédios mais significativos da
história de Porto Alegre. Pelo andar da carruagem, não sei quanto tempo ainda
vai passar até que o mercado esteja novamente completo. Repetem-se as alegações de espera de verbas. Mais um pouquinho, e
chego à Biblioteca Pública, na Rua Riachuelo a poucos passos do Teatro São
Pedro, mas não posso entrar. O prédio, em estilo eclético, com detalhes neoclássicos,
que começou a ser construído em 1912 e inaugurado em 1922, está em reformas,
acreditem, desde abril de 2007. Uma parte
do acervo está abrigada provisoriamente na Casa de Cultura Mario Quintana. Aos
domingos, o prédio antigo abre apenas para recitais especiais, mas não é
permitida a consulta na seção do Rio Grande do Sul. Conforme uma funcionária da
biblioteca, não há prazo para o fim das reformas porque dependem do recebimento
de verbas federais.
O mundo para nos dois lados da ponte enquanto o navio passa |
O antigo cinema vai virar cinemateca. Quando? |
Se seguirmos em direção à antiga Ponte de Pedra, que ainda
está ali porque não necessita de um trabalho mais técnico nem dispendioso de
conservação, encontramos, no Gasômetro, o protótipo do aeromóvel, com os pilares e plataformas
como um esqueleto de um animal que não existiu. Depois de muitos anos, o
aeromóvel movido a ar comprimido finalmente foi efetivado em poucas centenas de
metros entre a estação do Trensurb e o Aeroporto. Já o projeto de fazer um
veículo leve de passageiros deslizar do Centro, passando por sobre o Arroio
Dilúvio até a PUC, nunca foi efetivado. Por fim, o que também me entristece é ver a cidade com tantos indigentes
nas ruas, dormindo sob os viadutos, sobre as calçadas. E também o fato de o
Centro ser tão fedido. E aí me dou conta de que não há mictórios públicos
gratuitos e decentes para a população que, por esse motivo e pela falta de
educação, alivia-se nos cantos das paredes ou entre os carros. Vejo
também que os poucos mictórios públicos como na parte inferior do Viaduto
Borges de Medeiros ou na Praça da Alfândega, em reforma, não apresentam placas
indicativas. Dá a entender que não é interessante que o povo utilize esses
sanitários. A Copa do Mundo já está logo aí. Daqui a pouco, Porto Alegre estará cheia de turistas que, certamente, vão ter essa mesma sensação que tenho.
O local é um mictório público. Só quem já conhece, sabe. |
Obras lerdas? É que você ainda não ouviu falar das obras do novo aeroporto de Berlim :D
ResponderExcluirLilian