sábado, 15 de junho de 2013

UM POUCO MAIS SOBRE UM CERTO AMIGOMEU

Amigomeu Silva da Silva é um cara meio tosco, mas é o melhor amigo que eu poderia ter. Parceiros nas horas boas e nas ruins desde a infância lá no Grupo Escolar Seival, retomamos intermitentes e longas conversas na adolescência em Bagé e na maturidade em Porto Alegre. Somos muito diferentes, mas temos muitas características semelhantes. Um nunca esqueceu a data de aniversário do outro. Até porque nascemos no mesmo dia, no mesmo mês e no mesmo ano.
  Nas diferenças, posso citar que ele é Grêmio Bagé, eu sou Guarany, ele não sabe acolherar muito bem as letrinhas, e eu me viro melhor nessa área. Amigomeu tem umas manias estranhas. Não gosta de tirar fotos. Como alguns índios norte-americanos, acha que a foto aprisiona a alma. Nas festas de família, ele some quando vê alguém registrando o evento. Um dia, um primo dele o surpreendeu na peça do lado de onde ocorria uma comemoração de aniversário e o fotografou. Ao receber sua imagem em papel, ficou vermelho, arregalou os olhos e rasgou a foto. Teve ímpetos de agredir o parente. Esforçou-se para não ser grosso, mas não conseguiu:
- Se tu fizeres isso de novo, eu te quebro a máquina e a cara.
  Mais tarde pediu desculpas ao primo, mas recomendou-lhe que nunca mais fizesse isso.
Sem nenhuma fotografia em casa, Amigomeu gosta mesmo é de desenhos. Ele tem, em seu quarto, retratos seus feitos a mão. De cinco em cinco anos, ele procura uma desenhista de rua que trabalha na Avenida Otávio Rocha e encomenda um retrato seu feito a lápis ou nanquin. Ele fica parado diante dela o tempo que for necessário e depois leva a imagem para casa. Mostra apenas para os parentes e para os amigos mais chegados. E guarda junto com os outros em cima do guarda-roupa. É esquisito esse Amigomeu.
   Amigomeu e eu temos um pacto desde os tempos dos campos do Seival. Quando um estivesse com um problema sério, o outro contaria uma piada. Uma tarde, com o coração apertado, eu conversei com ele na Rua da Praia. Depois do meu desabafo, ele apontou para uma mulher com idade em torno dos 40 anos, razoavelmente bonita e com roupa de executiva:
- Estas vendo aquela dona? Como a vida transforma uma pessoa! Tu acreditas que em uma fase da vida dela ela não tinha cabelos, nem dentes e era analfabeta?
- Sério? O que aconteceu com ela?
- Nada. Ela cresceu – respondeu, dando aquelas gargalhadas de galpão dele.
Naquele momento, todas as amarguras desapareceram e eu pude pensar com tranquilidade para resolver o problema.

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