sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DUAS VERSÕES PARA UMA MESMA HISTÓRIA


Nesta semana, alguém me contou uma história para exemplicar que as pessoas sempre encontram soluções diante de dificuldades. Depois de ouvir, resolvi postá-la aqui, ao mesmo tempo em que criei uma nova versão com um final diferente. Eis a primeira:

Vaquinha do neto Raphael e fonte de água renovável (presente da filha Cristina)
       Família era sustentada por uma vaquinha
Um economista, com mestrado e preparando tese de doutorado, pouco depois de ler vários livros, convidou um amigo e viajaram para o Interior. Ao chegar a um lugar afastado, inventaram um defeito mecânico no carro e pediram ajuda em uma pequena propriedade. O dono da casa os convidou para almoçar, disse que a refeição era simples, mas que era um prazer tê-los ali.
 O economista observou a simplicidade da casa, a falta de pintura, a comida escassa. Curioso, perguntou como faziam para sobreviver e ouviu o relato do dono da casa:
- Temos uma vaquinha, que dá 20 litros de leite por dia. Somos eu, a mulher e quatro filhos. O leite que sobra a gente vende para vizinhos, que também compram o queijo que fazemos. Com o dinheiro, compramos farinha e fermento para o pão.Temos uma hortinha que nos dá mais alimentos. Não temos muito, mas vamos vivendo.
 Pouco depois de se despedirem, na subida do morro, viram a vaquinha. O economista desceu do carro e empurrou o animal penhasco abaixo. O colega perguntou:
- Por que tu fizeste isso?
- Depois tu vais entender – respondeu.
Três meses depois, os dois voltaram à propriedade. Na chegada, viram que a cerca e a casa estavam pintadas, havia cadeiras novas e ouviram um som que vinha da televisão.
- O que aconteceu - perguntou o economista?
- Nossa vaquinha caiu de um penhasco e morreu. Sem ela, tivemos que nos virar. Todos nós começamos a trabalhar, com o dinheiro investimos para melhorar nossa horta, compramos mais animais e agora estamos com uma condição de vida melhor.
O economista sorriu e anotou dados para a sua tese, definindo que as dificuldades fazem as pessoas se movimentarem em busca de soluções.
E agora, a versão que criei sobre o caso:
        Família era sustentada por uma vaquinha
Estressado com problemas conjugais e perdas ocasionais nos lucros, um empresário decidiu esfriar uma cabeça com uma viagem para o centro do país. Queria um lugar afastado, bucólico, para pensar sobre seus problemas em paz. Levado pelo motorista, chegou a uma pequena propriedade, disse que o carro havia enguiçado e foi convidado pelo dono da casa para almoçar. Viu que a casa não estava pintada, a comida era bem simples e quis saber como eles viviam:
- Temos uma vaquinha, que dá 20 litros de leite por dia. Esse leite é suficiente para mim, para mulher e os quatro filhos. O que sobra a gente vende para os vizinhos ou faz queijo e vende para comprar farinha e fermento, como qual fazemos pão. Temos uma hortinha que nos dá mais alimentos. Não temos muito, mas somos felizes.
- Vocês não têm ambições maiores, como comprar televisão, reformar a casa, comprar carro, viajar, usar roupas de grife?
O dono da casa respondeu:
- Gostamos da vida simples que levamos. De vez em quando, visitamos parentes na cidade mais próxima ou eles vêm nos visitar. Um dia ganhamos uma televisão nova de um turista a quem abrigamos. Um mês depois, vendemos o aparelho. É que ela estava nos transformando, insistindo para que comprássemos o que não precisávamos, não estava fazendo bem para as crianças. Com o dinheiro dela, compramos sementes e equipamentos agrícolas e seguimos nossa vida. Os dois filhos que ainda estão estudando caminham bastante para ir à escola, mas somos muito felizes. É gostamos muito da vaquinha. É ela que nos permite viver assim.
 Pouco depois de se despedirem, na subida do morro, viram a vaquinha. O rico empresário desceu do carro e empurrou o animal penhasco abaixo. O motorista perguntou:
- Por que o senhor fez isso?
- Depois tu vais entender – respondeu.
Três meses depois, os dois voltaram à propriedade. Na chegada,viram a casa fechada, com o mato tomando conta. Do galpão, desolado, veio o dono da casa.
- O que aconteceu? – perguntou o rico empresário.
O dono da casa relatou:
- Nossa vaquinha caiu de um penhasco e morreu. Sem ela, ficamos sem alimento e sem dinheiro. A família tentou uma saída, mas logo começaram os desentendimentos. Minha mulher e eu começamos a nos desentender. Os três filhos maiores foram para cidade em busca de um emprego. Sem sucesso e tentando nos ajudar a conseguir comida, um deles foi preso por furto em uma casa. Outro acabou se enforcando, e o mais novo viciou-se em crack e foi internado. A mulher se desgostou e foi embora com o caçula. E minha vida se transformou nisso.
Então o empresário fez uma oferta em dinheiro bem abaixo do mercado e comprou a propriedade do homem, que foi embora para a cidade. Hoje ele engrossa o cinturão de miséria na periferia da cidade, vive em uma vila clandestina, catando latinhas e morando em um casebre onde chove dentro o mesmo que chove fora.
Moral das histórias: cada cabeça que lê esses textos certamente terá uma interpretação conforme sua própria vivência e conhecimento.

5 comentários:

  1. Boa Plínio. Não desprezo a primeira versão, mas acho a segunda bem mais real. Sobre a primeira versão, conheço pouquíssimos exemplos, mas da segunda, há dezenas.
    Abraços!!!

    José Enedir

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  2. A primeira versão a gente conta para fazer as crianças dormirem. É um conto de fadas ou, na pior das hipóteses, uma historinha de autoajuda. Achei a tua versão assustadoramente realista.

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  3. Se observarmos a primeira versão com benevolência, podemos entendê-la como uma metafóra e então está tudo bem, apesar de o exemplo não ter me agradado. Já a segunda, que criei, é baseada em tantos fatos reais dos quais tomei conhecimento pessoalmente ou pela mídia.

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  4. A vida real está cada vez mais perigosa. Viver é perigoso!

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  5. Um bom administrador no pouco ou nu muito nunca parecerá pois e um bom administrador.

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