domingo, 5 de junho de 2011

UMA ANTIGA HISTÓRIA DE PLÁGIO

No post anterior, comentei o desrespeito de certos blogueiros que copiam textos alheios e não dão o devido crédito. Lembrei-me, depois, que não é de agora a minha indignação com os larápios de autoria. Há 25 anos, quando não existia computador nas redações gaúchas, flagrei um plágio lamentável.
Foi assim:
  Não me recordo bem em que ano foi. Lembro apenas que a empresa instituiu um concurso de poesia para os funcionários. Daí que muitos colegas participaram. Um dia, saiu o resultado pregado no grande quadro verde. Fui olhar e estranhei o trabalho que ficou em seguindo lugar. O título era a Conta e o Tempo. Fui ver o texto e aumentou ainda mais a minha desconfiança de que não era inédito: Deus me pede estrita conta do meu tempo. "Já li essa poesia, não me lembro onde", pensei comigo.
   Mas como confirmar isso em uma era na qual nem se pensava em Google ou na expressão "entrar com busca" ou "control f"? Enquanto me dirigia à Biblioteca Pública do Estado, fui matutando: qual seria o nome do autor? Até que me veio à mente pelo menos o sobrenome dele: Rabelo. Aí já me dava uma luz. Ao pesquisar o sobrenome Rabelo entre os autores, deparei com Laurindo Rabelo. Eureka! Mandei vir um livro dele e, sofregamente, passei às páginas dos poemas. Até que... tchanchanchanchan! Lá estava a seguinte poesia:


Deus pede estrita conta de meu tempo,
É forçoso do tempo já dar conta;
Mas, como dar sem tempo tanta conta,
Eu que gastei sem conta tanto tempo?
Para ter minha conta feita a tempo
Dado me foi bem tempo e não foi conta.
Não quis sobrando tempo fazer conta,
Quero hoje fazer conta e falta tempo.
Oh! vós que tendes tempo sem ter conta
Não gasteis esse tempo em passatempo:
Cuidai enquanto é tempo em fazer conta.
Mas, oh! se os que contam com seu tempo
Fizessem desse tempo alguma conta,
Não choravam como eu o não ter tempo.


Aí tirei xerox da página e a colei no quadro verde ao lado do outro texto com a pergunta: afinal, quem é o autor?
O colega ficou envergonhado. Alegou que a irmã dele havia entregue a poesia para que participasse do concurso. Apesar disso, o concurso não foi anulado.
Nesta semana, consultando a Internet, fiquei ainda intrigado. A maioria dos sites e blogs atribui essa poesia ao poeta carioca Laurindo Rabelo (*8/7/1826-+28/9/1864). Mas achei também quem creditasse o poema ao frade português Antônio das Chagas (*25/6/1631-+20/10-1682). Estou tentando decifrar esse enigma. Foi só um erro de internautas ou Rabelo plagiou o frei?

6 comentários:

  1. é lamentável os plágios.... ainda bem que até hoje nunca achei nada meu plagiado!

    bjos

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  2. Na verdade, meu irmão, nem é do Rabelo nem é do frei, porque o autor barroco é desconhecido.
    Conheço o poema há bastantes anos,de autor desconhecido,supondo-se que seja barroco.
    O poema não é exactamente assim. O Rabelo copiou-o mal!
    Começa: "Deus me pede do tempo estreita conta/ é preciso dar conta a Deus do Tempo/Mas quem gastou sem conta tanto tempo/ como dará sem tempo tanta conta?
    Para fazer a tempo a minha conta/dado me foi por conta muito tempo/ mas não cuidei no tempo e foi-se a conta/ Eis-me agora sem conta eis-me sem tempo!
    Oh vós que tendes tempo sem ter conta/ Não o gastei sem conta em passa-tempo/ Cuidai enquanto é tempo em terdes conta!
    Pois que se quem isto conta do seu tempo/ tivesse feito a tempo apreço e conta/ não chorava sem conta o não ter tempo."

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  3. Tbm conheço o texto há 25anos...sempre como sendo de Laurindo Rabelo...mas tenho visto referencia ao frei...e tbm a autor desconhecido.
    Kkkkk dificil nao?

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  4. Vejam meus amigos como passa o tempo sem conta;
    Tenho 69 e nove primaveras e desde minha adolescência conheço este maravilhoso poema:Querem saber de quem verdadeiramente é o autor desta preciosidade? Tambem não sei.
    O que posso afirmar é que o autor desta maravilha só poderia mesmo ser de um "Anônimo..." E que inimitável ...............!

    Juarez Gurgoel-
    Fortaleza-Ce.

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  5. Gostei muito do seu post. Conheci esse poema numa palestra espírita, fora recitado pela palestrante. Como faz muitos anos não me recordo a quem ela atribuiu a autoria, se ao Laurindo ou ao frei. Uma coisa não deixa dúvida: é belíssimo!
    Abraços fraternos

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  6. O Soneto intitulado " Do tempo " foi escrito por frei José de Santo António ( Castelo Branco ) ; era filho dos condes de Pombeiro.
    Chamava-se José Castelo Branco.
    Tomou hábito no dia 19-Março-1701.
    Faleceu no terramoto de 1755 ( Lisboa ) :

    Do tempo

    Deus nos pede do tempo estrita conta!
    É forçoso dar conta a Deus do tempo
    Mas como dar, do tempo, tanta conta,
    Se se perde sem conta tanto tempo?!

    Para fazer, a tempo, a minha conta,
    Dado me foi, por conta, muito tempo,
    Mas não cuidei no tempo e foi-se a conta...
    Eis-me agora sem conta, eis-me sem tempo...

    Ó vós que tendes tempo e tendes conta,
    Não o gasteis, sem conta, em passatempo,
    Cuidai, enquanto é tempo, em terdes conta.

    Ah! Se quem isto conta do seu tempo
    Tivesse feito, a tempo, apreço e conta,
    Não chorava, sem conta, o não ter tempo.

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