quinta-feira, 25 de junho de 2015

MAIS SOBRE A MORTE DO ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES

A gente até se lembra de algum conhecido quando já não tem um contato contínuo, mas a morte dele é tão forte que vêm na nossa mente todas as suas histórias, sua vida como num filme. A morte do Nico Fagundes me trouxe tantas lembranças que não consegui dormir, pensando nas histórias que ele contava e que por sua vez me levavam pros Campos do Seival, embora se referisse ao seu amado Alegrete. E por termos sido colegas na RBS, ainda que em seções diferentes, começo a relembrar os causos que ele contava com extremo bom humor. Lembro do Canto Alegretense e das histórias da Fronteira e da Campanha. Vem-me até o Guri de Uruguaiana, mais recentemente repetindo criativa e exaustivamente a letra do Canto Alegretense em outras melodias. Recordo dos dados históricos, ainda que não concordasse com alguns, mas principalmente os causos, iguais aos que meu pai contava. Um dos mais hilariantes que ouvi em uma gravação do Nico foi sobre a Galinha Alegretense. Vou tentar contar um pedaço, com as minhas palavras, mesmo sem o talento do Nico, mas como uma forma de homenageá-lo e desejar que sua alma descanse em paz com luz e alegria.
      O Nico, quando veio para Porto Alegre, morava num quarto alugado. Um dia ganhou uma galinha viva de presente mandada pela família lá do Alegrete. A intenção inicial era botá-la na panela. Mas a solidão e o apego à penosa, que o olhava com tanto carinho, fez com que ele esquecesse da ideia de transformá-la em alimento. Daí que a galinha ficou como uma espécie de bichinho de estimação. Um dia, a galinha resolveu sair daquele quarto e conhecer a tal de Porto Alegre. Sabem como são os alegretenses. Não sei por que a galinha atravessou a rua, mas o causo é que um caminhão passou por cima dela. Nico ficou abatido, olhando por vários minutos para aquele corpinho achatado no asfalto. De repente, notou que a galinha não era de se entregar. Devagarinho, de forma quase imperceptível, a penosa descolou uma parte da asinha, depois a outra. E sucessivamente foi se despregando do asfalto, primeiro uma patinha, depois a outra até que conseguiu se pôr em pé. Ainda tonta, arrepiou-se e comentou, suspirando:
- Meu Deus do Céu. Esse galo véio só pode ser do Alegrete.
Obrigado, Nico Fagundes. Vá em paz.

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