Passeio na praia do Quintão Foto de Matheus Bruxel/ Diário Gaúcho |
...e foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu olhar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!
(Eduardo Galeano, O Livro dos Abraços)
Gostaria de ter ido à praia com os 50 meninos e meninas da Associação Tia Lolô, da Vila Orieta, de Viamão. Na quinta-feira, eles viram o mar pela primeira vez. Queria estar lá não pelo oceano, que sempre é revigorante revê-lo, estender o olhar e imaginar o que tem do outro lado da barranca. Queria ter estado lá para ver o brilho nos olhos dos pequenos, ouvir seus comentários surpreendentes, rir com eles de tudo, correr pela beira da areia.
Não importa se é um chocolatão, como muitos se referem às praias do Litoral Gaúcho, principalmente as com menor glamour. Não importa que a areia não seja branca como a de Xel-Há, o santuário maia do México, próximo a Cancun. O que importa é que eles estavam lá pela primeira vez e aquela quinta-feira vai ficar marcada em suas memória para o resto de suas vidas.
Já que não estive lá, valho-me do Diário Gaúcho e da minha amiga Losângela Soares Martins, a Tia Lolô, para contar um pouco do que foi essa aventura. Para Tia Lolô, foi um sonho realizado, quase um milagre, como o que aconteceu com alguns dos seus pequenos que estavam indo mal na escola:
- Em oito tinha oito muito mal. A professora me disse: só por milagre. E os oito passaram. O milagre aconteceu. Um dia um deles me falou: Tia Lolô, meu pai disse que eu sou um aso perdido. Que não adianta eu tentar porque já estou rodado. Fiquei furiosa, respirei fundo e disse que se ele me ajudasse, iríamos fazer uma surpresa para o pai dele. Ele perguntou o que precisava fazer e eu respondi: estudar bastante comigo todos os dias. Eles vinham pra cá, e puxava muito e ainda pedia pras profes mandarem mais tema. Por isso, eu tinha que recompensá-los. Agora vamos trabalhar que esse trabalho se repita em 2015.
Quem botou sal no mar?
Foi uma batalha árdua, como todas as lutas da Tia Lolô. Mas ela venceu. Conseguiu uma parceria com uma van com a empresa RSC Tur, juntou mais um carros particulares e se foram para Quintão, no Litoral Norte. Tia Lolô ficou triste porque faltou transporte para cinco crianças, que também ficaram tristes, mas entenderam a situação.
- Tia, quem é que botou sal no mar? perguntou um dos pequenos para uma das voluntárias que acompanharam o grupo. Outro falou: Quem é que colocou o sal? E o mais importante foi o comentário do Vitor, de cinco anos:
- Quem colocou o sal foi o filho do Mar.
Ele explicou, com aquele jeitinho que as crianças de cinco anos têm, que quando o pai dele pediu para colocar sal na pipoca, ele exagerou na dose e a pipoca ficou salgada.
E assim, a criançada ficou feliz. Voltou para casa já pensando na segunda-feira quando terão mais um passeio. Vão para o Parque Aquático Parque Paraíso, na Protásio Alves.
Eu pergunto:
-E aqueles cinco que não puderam ir a praia? Vão dessa vez?
- É claro! Nossa, dói mais em mim do que neles quando isso acontece. E depois do Park, vamos baixar a cabeça e estudar muito.
Tenho acompanhado o trabalho da Tia Lolo que é incansável no cuidado e preocupação com essas crianças, sempre com um novo sonho para proporcionar novas descobertas tão importantes para a formação desses jovens. Agora um novo sonho: conseguir um veículo para a associação, que possa transportar as crianças para teatros, cinemas, feiras culturais etc... Sempre com o objetivo de formar adultos conscientes do seu papel na sociedade. Palavras da Tia Lolo: - pode ser uma camionete bem velhinha, depois mandamos uma carta para o Luciano Huck reformar para nós. Continue sonhando Losângela, as crianças merecem!
ResponderExcluirMuito leqal esse comentário. Uma lástima que não contenha o nome do autor. Deve ter sido postado como anônimo devido a alguma dificuldade do blog que ainda não consegui resolver. Pena que o nome do(o) amigo(a) não tenha sido inclído no final do texto. Vou repercutir isso no Facebook. Valeu mesmo.
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