Entrados na terceira idade, muitos têm saudades de coisas que não desfrutam mais. Alguns têm saudade do cigarro embora vibrem por ter conseguido deixá-lo, outros de outros divertimentos, até mesmo o sexo. E há quem, como eu, tenha saudade de jogar bola. De vez em quando eu até sonho com o futebol de rua da minha infância e adolescência. E a saudade se torna ainda mais forte quando noto algo curioso que me acontece. Parece que não sou só eu que tem saudade. Ela, a bola, também tem. Não é uma nem duas vezes que ela me procura. Quando caminho pelas ruas e passo por algum lugar onde se realiza uma pelada ou as pessoas simplesmente brincam, a bola parece se livrar dos que a dominam e se atira em minha direção. Ela lembra um cachorrinho que reencontra o dono algum tempo depois. Primeiro, lambe os meus tênis, pula no meu joelho, delicia-se carinhosamente sob a sola dos meus pés. E depois aceita que eu a empurre de volta ao jogo.
Pois hoje à tarde, a caminho da padaria, aconteceu de novo. Não sei como a bola conseguiu pular aquela tela com mais de dois metros de altura e vir em minha direção. Acho que não a estavam tratando com a dignidade e carinho que ela merecia. O certo foi que, quando eu passava pela quadra de futebol, na praça, a bola passou voando e cruzou sobre os carros na Avenida Gastão Mazeron. Quando passou por mim, virou-se e eu percebi que ela piscou o olho, como quem diz, vem me buscar. Quando me dei por mim, já havia atravessado a rua, por entre os carros, e ido pegá-la já quase no muro do velho Estádio Olímpico que aguarda melancolicamente a hora de ser implodido. A gurizada que jogava futebol achou estranho aquele idoso ter ido atrás da bola. Talvez tenha até passado pela cabeça de alguém de que iria pegar para ele. Quando peguei a pelota, fiz duas embaixadinhas e até iria tentar mais algumas jogadinhas, mas me lembrei da impaciência dos jovens jogadores de futebol. Esperei uma pausa no fluxo dos carros e chutei com o pé esquerdo para o jogador que aguardava na outra calçada.
Quando entreguei a bola, o jogo recomeçou. Não ouvi um obrigado sequer. A não ser que tinha sido prejudicado por uma deficiência auditiva. É que, quando eu era guri e a bola saía intempestivamente do recinto por algum atacante descalibrado ou zagueiro sem muitos recursos técnicos, ficávamos contentes quando alguém nos ajudava reconduzindo a bola para a quadra, ou cancha, como chamávamos. E, quando a bola voltava, ouvia-se um festival de "muito obrigado". Parece que o futebol de rua já não é mais o mesmo. Nem a educação.
Pois hoje à tarde, a caminho da padaria, aconteceu de novo. Não sei como a bola conseguiu pular aquela tela com mais de dois metros de altura e vir em minha direção. Acho que não a estavam tratando com a dignidade e carinho que ela merecia. O certo foi que, quando eu passava pela quadra de futebol, na praça, a bola passou voando e cruzou sobre os carros na Avenida Gastão Mazeron. Quando passou por mim, virou-se e eu percebi que ela piscou o olho, como quem diz, vem me buscar. Quando me dei por mim, já havia atravessado a rua, por entre os carros, e ido pegá-la já quase no muro do velho Estádio Olímpico que aguarda melancolicamente a hora de ser implodido. A gurizada que jogava futebol achou estranho aquele idoso ter ido atrás da bola. Talvez tenha até passado pela cabeça de alguém de que iria pegar para ele. Quando peguei a pelota, fiz duas embaixadinhas e até iria tentar mais algumas jogadinhas, mas me lembrei da impaciência dos jovens jogadores de futebol. Esperei uma pausa no fluxo dos carros e chutei com o pé esquerdo para o jogador que aguardava na outra calçada.
Quando entreguei a bola, o jogo recomeçou. Não ouvi um obrigado sequer. A não ser que tinha sido prejudicado por uma deficiência auditiva. É que, quando eu era guri e a bola saía intempestivamente do recinto por algum atacante descalibrado ou zagueiro sem muitos recursos técnicos, ficávamos contentes quando alguém nos ajudava reconduzindo a bola para a quadra, ou cancha, como chamávamos. E, quando a bola voltava, ouvia-se um festival de "muito obrigado". Parece que o futebol de rua já não é mais o mesmo. Nem a educação.
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