Não tenho um número grande de amigos reais, mas os que tenho
são fantásticos. Um deles é o Claiton
Magalhães, jornalista e atualmente editor-executivo do Diário Gaúcho e
mestrando em Jornalismo na PUC. Além de competente, tem um grande senso de
humor. Nasceu e morou na Vila São José, na base do Morro da Cruz, em Porto
Alegre, o mesmo local de nascimento do
grande repórter Caco Barcelos, que há muito tempo brilha na Globo. Publico hoje
uma história que o Claiton me contou garantindo que é verdadeira, embora, como
se verá a seguir, é difícil de acreditar.
Pois o fato se deu em uma época em que o Claiton jogava futebol na várzea. Segundo ele próprio, era um goleador nato, um centroavante que não dava moleza para goleiro nenhum. Bobeasse, e ele já estava colocando a gorduchinha nas redes. A cada partida, o meu amigo deixava o golzinho dele ou dava um merengue para um companheiro se consagrar também.
Um dia, Claiton levou o par de chuteiras para um sapateiro consertar. Precisava estar com os pisantes em ordem para continuar metendo gols. No sábado, ele buscou as chuteiras. Trabalho de primeira. Perguntou quanto era o conserto, e o sapateiro disse o valor, mas acrescentou que não tinha pressa no pagamento. Claiton então prometeu acertar tudo na segunda-feira e se mandou para o campo de jogo, onde brilhou novamente. No fim de semana seguinte, Claiton ficou sabendo que o sapateiro havia se sentido mal no domingo, teve um problema de coração, ficou dois dias no hospital e morreu. Com isso, a família fechou a sapataria.
Pouco depois disso, Claiton começou a se sentir um pouco estranho. No futebol, já não era mais aquele centroavante cheio de energia e competência que fazia gol de cabeça, de sem-pulo, bicicleta, carrinho e até com joelho. Já não fazia gol nenhum. Se recebia um merengue, entrava na área, perdia o equilíbrio ou chutava o chão ou atirava a bola a quilômetros de distância da goleira. Parecia que algo estava acontecendo. Parecia que o vento mudava a trajetória da bola, e ela não entrava. Isso até em dias sem vento.
Mas o problema não
era só no futebol. A partir daí, ele não conseguia se formar em jornalismo, tinha
dificuldades para fazer o trabalho de conclusão, nenhum plano dava certo. E o
pior: não havia jeito de engravidar a esposa. Um dia, quando entrou sozinho na
área e errou mais uma vez o gol, olhou para os pés e lembrou-se de um detalhe:
não tinha pagado o conserto das chuteiras do falecido sapateiro.
Para ter certeza, foi a um centro de umbanda na Vila Vargas, ao lado do Morro da Cruz. Ao atendê-lo, o preto velho já foi falando, no meio de uma espessa fumaça de charuto:
- Misifio. Suncê nem percisa preguntá nada pro preto véio. O motivo do teu banzo tá bem craro na tua cachola. Tem a vê com a reformação dos pisante que tu não pagô. O isprito do hômi dos carçado ficô tiririca da vida e começô a trapaiá vassuncê. Faiz o pagadero que tudo se arresorve.
Claiton saiu do terreiro e procurou logo os familiares do sapateiro. Eles disseram que não se preocupasse, que não precisaria pagar nada, mas ele insistiu, disse que era uma questão de honra. E pagou.
Verdade ou não, o certo é que o velho centroavante voltou a fazer gols. Além disso, Claiton conseguiu se formar e, para coroar a nova maré de felicidade: sua esposa ficou grávida de uma menina. Eu não acreditei, mas ele jurou que tudo foi verdade. Como na vida profissional ele é um sujeito sério, sei lá.
Pois o fato se deu em uma época em que o Claiton jogava futebol na várzea. Segundo ele próprio, era um goleador nato, um centroavante que não dava moleza para goleiro nenhum. Bobeasse, e ele já estava colocando a gorduchinha nas redes. A cada partida, o meu amigo deixava o golzinho dele ou dava um merengue para um companheiro se consagrar também.
Um dia, Claiton levou o par de chuteiras para um sapateiro consertar. Precisava estar com os pisantes em ordem para continuar metendo gols. No sábado, ele buscou as chuteiras. Trabalho de primeira. Perguntou quanto era o conserto, e o sapateiro disse o valor, mas acrescentou que não tinha pressa no pagamento. Claiton então prometeu acertar tudo na segunda-feira e se mandou para o campo de jogo, onde brilhou novamente. No fim de semana seguinte, Claiton ficou sabendo que o sapateiro havia se sentido mal no domingo, teve um problema de coração, ficou dois dias no hospital e morreu. Com isso, a família fechou a sapataria.
Pouco depois disso, Claiton começou a se sentir um pouco estranho. No futebol, já não era mais aquele centroavante cheio de energia e competência que fazia gol de cabeça, de sem-pulo, bicicleta, carrinho e até com joelho. Já não fazia gol nenhum. Se recebia um merengue, entrava na área, perdia o equilíbrio ou chutava o chão ou atirava a bola a quilômetros de distância da goleira. Parecia que algo estava acontecendo. Parecia que o vento mudava a trajetória da bola, e ela não entrava. Isso até em dias sem vento.
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Olhe só a figura do artista |
Para ter certeza, foi a um centro de umbanda na Vila Vargas, ao lado do Morro da Cruz. Ao atendê-lo, o preto velho já foi falando, no meio de uma espessa fumaça de charuto:
- Misifio. Suncê nem percisa preguntá nada pro preto véio. O motivo do teu banzo tá bem craro na tua cachola. Tem a vê com a reformação dos pisante que tu não pagô. O isprito do hômi dos carçado ficô tiririca da vida e começô a trapaiá vassuncê. Faiz o pagadero que tudo se arresorve.
Claiton saiu do terreiro e procurou logo os familiares do sapateiro. Eles disseram que não se preocupasse, que não precisaria pagar nada, mas ele insistiu, disse que era uma questão de honra. E pagou.
Verdade ou não, o certo é que o velho centroavante voltou a fazer gols. Além disso, Claiton conseguiu se formar e, para coroar a nova maré de felicidade: sua esposa ficou grávida de uma menina. Eu não acreditei, mas ele jurou que tudo foi verdade. Como na vida profissional ele é um sujeito sério, sei lá.
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