domingo, 21 de outubro de 2012

PEDREIRO SE ENFORCA DEPOIS DE OUVIR BRINCADEIRA NO RÁDIO

Infelizmente, a maioria dos comentaristas ou comentadores de rádio, televisão ou jornal não tem consciência sobre quem está do outro lado, ouvindo, vendo ou lendo. Tivessem essa noção exata, não cometeriam barbaridades que se ouvem, veem e leem diariamente. Um exemplo disso me veio ao conhecimento nesta semana, em uma conversa ocasional com um vizinho. O relato que vou fazer é verídico, pelo que depreendi. Aconteceu em Porto Alegre. Não darei nomes dos envolvidos porque, hoje em dia, no final de tudo, mesmo com provas, quem erra se acha no direito de processar quem o critica. E, para mim, mais importantes são os fatos. Uma parte envolvida naturalmente é identificada por quem costuma ouvir rádio.
 Contou-me o vizinho que há três meses um pedreiro conhecido dele suicidou-se, por enforcamento, um dia depois de ter ouvido, em um programa radiofônico de grande audiência, algo que o chocou.  Com a palavra, o vizinho:
     “Esse meu amigo pedreiro andava com problemas de relacionamento conjugal. Trabalhava bastante, tinha um emprego fixo e fazia bicos nos fins de semana. Mas andava em constante atrito com a esposa. Enquanto ele estava no trabalho, a mulher costumava levar o filho pequeno a uma pracinha para brincar. Foi lá que ela conheceu outra mulher, que é lésbica. Essa mulher começou a botar coisas na cabeça da outra, sugerindo separação. O pedreiro suspeitou que as duas tivessem o caso. Tanto eu como esse meu amigo costumávamos ouvir com frequência a mesma rádio, que tem um programa sobre futebol na hora do almoço. Pois um dia, os participantes do programa abordaram o caso de um jogador de futebol que estava sendo traído pela mulher, que se apaixonou por um colega dele. Conversa vai, conversa vem, piada vai, piada vem, até que um deles disse o que, com certeza atingiu em cheio o meu amigo:
- Ser traído é coisa normal. Ser traído pelo colega de profissão é brabo. Mas o pior de tudo é perder a mulher para outra mulher. Aí, o cara tem que se suicidar. Todos riram muito, o autor da frase achou-se o cara mais criativo e inteligente do mundo. Tenho certeza absoluta de que ele estava ouvindo o programa naquele dia. Não perdia um.
 No dia seguinte, o pedreiro ficou com aquilo retumbando dentro da cabeça. Quando ele chegou em casa do trabalho, a mulher mais uma vez reclamou dele, eles se desentenderam, e ela ameaçou ir embora. No dia seguinte, um sábado, ele ligou para a irmã e avisou que não aguentava mais, que ia se enforcar. A irmã correu para a casa dele, mas, quando o encontrou, ele já estava pendurado.”
  Com certeza, nenhum dos integrantes desse programa conhece essa história, nem alguma outra semelhante que tenha acontecido. Se tivessem tomado conhecimento, certamente teriam argumentos para dizer que essa morte não teve nada a ver com eles. Eles precisariam disso para pôr a cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente. Mas a vida é como ela é, como já dizia o dramaturgo Nelson Rodrigues. E alguns comunicadores são como são. Infelizmente. É triste. Muito triste.

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