segunda-feira, 4 de março de 2013

DOIS TIPOS DE KABULETÊ

Entre os poucos neurônios que me restam, um deles é o Dunga. Ele mora dentro do baú das minhas lembranças e está encarregado de me avisar sobre alguma coisa interessante do passado que  tenha ligação com o presente. O nome dele não é por causa do treinador atual do Internacional, embora possa haver até algumas semelhanças entre eles. Carlos Caetano Bledorn Verri é uma mistura entre Dunga, Mestre e Zangado, três dos personagens da Branca de Neve, conto de fadas alemão compilado pelos irmãos Grimms e que virou desenho e filme da Disney.
 Mas não era do treinador que eu estava falando, mas do meu neurônio encarregado do baú das recordações. O nome dele também tem origem na história da Branca de Neve, mas é bem anterior. De vez em quando, sem falar nada, ele faz uma bagunça na minha cabeça e atira para a sala de estar do meu cérebro, algumas lembranças interessantes.
 Um caso desses foi hoje. Alguma coisa me dizia que eu já havia ouvido antes o termo kabuletê que a autora Glória Peres incluiu como bordão nos diálogos dos turcos que falam português melhor do que eu, aproveitando uma licença poética incrível. Pois kabuletê, em turco, (kabul et) significa algo como combinado, aceito.
Foi então que o Dunga, o anãozinho que mora no baú das minhas lembranças me atirou um trecho de uma música lançada em 1970, cujo título é "Na Tonga da Mironga do Kabuletê". Ao contrário do vocábulo turco, que significa algo positivo, o cabuletê da música de Vinícius de Moraes e Toquinho é um xingamento na lingua nagô. "Eu caio de costas, eu sou quem eu sou, eu saio da fossa, xingando em nagô.
Não há comprovação disso, mas uma interpretação à qual tive acesso, o blog Portrasdaletra, diz que Vinícius teria aprendido o termo em nagô, língua africana, com uma das mulheres que teve, a baiana Gesse Gessy. Segundo ela, que aproximou o poetinha do candomblé, apresentando-o à Mãe Menininha do Gantois, kabuletê significa, desculpem-me os mais pudicos, "o pêlo do cu da mãe". Como aquela época era o auge da ditadura militar, Vinícius resolveu xingar o sistema em nagô para não correr o risco de ser preso. Se é ou não verdade, a questão é que isso faz parte da biografia de Vinícius de Moraes,  Poeta da Paixão, São Paulo, editada pela Companhia das Letras.
 Encontrei informações de que kabuletê seria também um instrumento de percussão com uma leve semelhança com o chocalho com origem provavelmente na Ásia.
Voltando ao kabuletê turco, li que os atores da Globo passaram 40 dias na Turquia aprendendo o significado e a pronunciar algumas palavras usadas como bordão. Uma delas é gulê gulê, que quer dizer adeus, mas que só é dita por quem fica. Eu nem imaginava, porque gule-gule,
 para mim, é fazer carinho em bebê.


P.S - Ainda usarei acento em pêlo, para diferenciar da preposição e também continuo botando acento em idéia e assembléia para dar idéia de que o é é aberto, diferentemente de teia, de aldeia, etc. É que os trapalhões do governo brasileiro, sem a adesão ao acordo de outros países de língua portuguesa, adiaram a efetivação da (nefasta) mudança, que não serve para nada a não ser para editores de livros didáticos ganharem dinheiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E aí? Se der tempo, critique ou elogie. Se tiver problemas para acessar, entre como anônimo (e deixe seu nome no final, se quiser)