quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

SOBRE PRIVACIDADE E CURIOSIDADE


A velhinha entrou na 15ª DP e foi pedindo providências à polícia. Era um absurdo, segundo ela, o que acontecia em uma determinada rua do Bairro Partenon. Um exibicionista costumava andar nu na sala de sua própria casa diante de um janelão de vidro permanente aberto e sem cortinas. Algo precisava ser feito, disse a mulher ao policial de plantão. O escrivão pediu-lhe calma. Primeiro seria feito o registro e depois então, a polícia iria até o local. Se fosse o caso, o homem poderia ser preso e depois processado por atentado ao pudor.
     Enquanto pegava os dados para a ocorrência, o policial estranhou o fato de a  residência da idosa ficar no bairro Glória, a mais de dois quilômetros da casa do tal exibicionista:
     - A senhora mora em um bairro, e o caso acontece em outro, minha senhora. Como é que a senhora sabe...
- Ah – interrompeu a velhinha – é que eu tenho um binóculo!
(Não lembro de onde tirei isso, que me veio à lembrança assim, sem mais nem menos)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ENFERMEIRA DENUNCIOU, SEM QUERER, HOMEM QUE TRAÍA A ESPOSA

Adoro histórias reais. Uma delas me surgiu em uma conversa familiar. Depois de sair de uma festa, uma enfermeira carregava, em seu Chevette, uma colega e uma assistente social pela Avenida Ipiranga, quando o veículo estragou. Sem qualquer noção de mecânica, a motorista ficou atrapalhada. Um taxista, boa alma, chegou para ajudar. Disse que, a 150m dali havia uma oficina mecânica. Ela poderia deixar o táxi no posto de gasolina em frente e voltar no dia seguinte para pegá-lo. Como eram três mulheres, não teriam como empurrar o carro, que atravancava o trânsito. O motorista sugeriu que a condutora dirigisse o seu táxi que ele e suas colegas empurrariam o Chevette. Constrangida, a enfermeira pensou no mico que pagaria se alguma colega a visse dirigindo um táxi; imaginariam que ela tinha arrumado um bico. Ela chegou a entrar no táxi, mas disse que não conseguia dirigi-lo. Santa paciência. O taxista ajudava a empurrar o carro a cada cem metros e voltava para buscar seu táxi. Até chegarem ao posto de gasolina, onde o Chevette foi deixado. As três jovens foram para suas casas no mesmo táxi sem esquecer-se de agradecer ao motorista pela atenção e remunerá-lo com uma boa gorjeta.
   Tudo parecia ter terminado bem para a motorista do Chevette. Depois de ter acertado com o mecânico para consertar o carro – era um simples defeito elétrico – ela recebeu a notícia de que, no dia seguinte, poderia pegar o automóvel deixado estacionado na frente da oficina. No dia seguinte, outra surpresa. Um telefonema do mecânico, porém, anunciou mais um problema, agora mais relevante. Um automóvel com um casal havia batido no veículo estacionado. Os ocupantes fugiram com o carro, mas, feridos levemente, foram medicados em um hospital. Melhor seria se ele tivesse assumido os danos.
    A azarada dona do veículo atingido foi atrás do prejuízo. Com colegas de um hospital, informou o horário em que o casal foi atendido e o local da ocorrência. Assim, conseguiu o número do telefone residencial do dono do automóvel que bateu.
    Na casa, atendeu uma mulher:
– Estou ligando porque vocês bateram no meu carro e eu não tenho condições financeiras para consertá-lo?
– Como assim? – espantou-se a mulher, perguntando a seguir:
 – A que horas foi isso? Em que local?
   Foi então que ela percebeu tudo. O homem estava com uma amante. Mal e mal contendo a raiva, a esposa garantiu à motorista que seu prejuízo seria reparado.
– Me dá teu telefone e procura a oficina mais cara para consertar o teu carro. Ele vai pagar tudo direitinho - bufou a mulher como se colocasse no verbo pagar toda a sua indignação.
Pouco depois, ligou o próprio marido:
–  Pô, minha, porque tu ligaste lá pra casa? Agora tô enfrentando um problemão com a minha mulher
– O azar é teu. Quem mandou ser burro? Se tivesses deixado um bilhete com o telefone, não teria dado todo esse problema – desabafou a enfermeira.




segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O FURTO DAS JOIAS QUE ESTAVAM GUARDADAS NO OCO DA PIA

A manhã era linda naquele mês de outubro de 1974. Um céu azul e uma temperatura amena alegravam a vida de todo mundo. Menos a dela. Elvira nem curtia o canto dos passarinhos nas frondosas árvores da Redenção, nada a deixava menos irritada. Enquanto caminhava, só pensava naquilo. Como foi acontecer uma coisa daquelas? Como é que somem assim, de uma hora para outra, todas as suas economias? O arrependimento a corroía tanto quanto a perda das joias e do dinheiro. Também, por que teve a ideia idiota de usar o oco da pia como cofre?

   Tudo isso ela repetiu para o delegado da 10ª, na Rua Jacinto Gomes, bem pertinho do Hospital de Pronto Socorro. Queria ajuda para recuperar o que furtaram e também desabafar toda sua frustração, dividida entre a sua burrada e a ganância e desumanidade de quem a prejudicou.
- Quem mora com a senhora? perguntou o delegado, depois que o plantonista lhe passou aquela queixosa que parecia estar na iminência de ter um troço.
Ela tomou um copo de água, ficou mais calma e deu detalhes da sua história. Com 62 anos, ficara viúva havia poucos meses e vivia com a filha de 32 anos e a empregada de 20 anos, que ela mandara buscar no Interior do Estado.
Quando a mulher falou na empregada, o policial coçou o queixo, perguntou se era branca ou negra, e balbuciou “humhum”, quando foi informado de que se tratava de uma morena" termo usado para não dizer negra.
   – E de quem a senhora suspeita? Perguntou o delegado, já quase com a certeza de que a mulher iria falar na funcionária.
   – Eu suspeito do seu José – disse a idosa, acrescentando que, naquela semana, o homem havia realizado um trabalho na casa dela.
   – Ele havia feito um furo que ia do chão do meu quarto, no andar de cima até o teto do banheiro para fazer passar as canaletas da luz. Eu acho que ele resolveu me espiar nua e deve ter visto quando eu retirei o dinheiro que guardava, junto com as joias dentro do oco da pia em um saco plástico.

Dois policiais de corpo grande e cérebro pequeno foram investigar

  O delegado encarregou o caso para dois dos seus inspetores. Eram dois “armários” com cérebro do tamanho de uma ervilha. Eduardo e Ricardo foram ao local do crime para descobrir as circunstâncias do desaparecimento das joias e do dinheiro. Enquanto Eduardo subiu ao quarto da vítima, na companhia dela, Ricardo examinava o mocó, isto é, o lugar onde a idosa guardava as suas economias. Quando Eduardo chegou ao banheiro, percebeu que a entrada do buraco no oco da pia era pequena e só cabia a mão pequenina da mulher. Portanto, não teria sido o suspeito principal o autor do furto. Mas eis que o policial observa atentamente e vê uma rachadura na pia. Ao puxá-la para trás, notou que a pia estava quebrada. A suspeita contra o eletricista voltou.
   – Ele deve ter quebrado a pia, pegado o dinheiro e as joias e depois encostado de volta no lugar. Não há dúvida – raciocinou o inspetor Eduardo.
   – Um fusquinha branco com os dois brutamontes armados de revólver 38 parou diante de uma casa humilde na Vila Restinga. O velho eletricista foi buscado na horta, onde regava as plantas e colocado dentro do carro, debaixo de tapas e safanões pelos policiais que diziam “cadê as joias, cadê o dinheiro?”
   Quando a esposa do eletricista protestou, ouviu os gritos dos agentes dizendo que ele havia furtado joias da casa de uma pessoa para quem fizera biscates. Quando a velhinha insistiu na inocência dele, foi chamada de vagabunda e outros termos que nem é bom aqui repetir. Os policiais queriam que ela dissesse onde estavam as joias e a acusaram de estar mancomunada com o marido.
  
Inocente foi espancado para confessar o furto

De volta à delegacia, os dois inspetores passaram a bater no velhinho com um pedaço de pau. Usavam uma lista telefônica para abafar os golpes e não deixar manchas. Chegaram até a enfiar a cabeça dele em um barril de água para que confessasse onde estavam as joias. Depois de algum tempo sem nada conseguir, foram pedir ajuda ao delegado.
   – Major, abrimos o cara, tentamos de tudo e ele não confessa. Só nos resta agora usar a maricota.
   O delegado olhou para aquele frágil suspeito e não permitiu que usassem choque elétrico. Respirou fundo e pediu que lhe dessem todos os detalhes da investigação.
    – Aí, quando vi que a pia estava quebrada, tivemos a certeza de que ele era o culpado – relatou Eduardo.
Foi quando o outro tira, meio engasgado, comentou:
  –Tem um porém aí. Quem quebrou aquela pia fui eu quando subi para ver mais de perto o tal furo no teto.
O outro investigador ficou vermelho, possesso:
   – Mas como? Por que tu não disse isso lá, na hora?
   – Fiquei com vergonha de falar – desculpou-se o policial trapalhão.
     Eduardo perdeu a linha. Voou no pescoço do colega, e os dois rolaram no chão. Parecia uma luta livre de dois pesos pesados. Já havia uma desavença antiga entre eles. Certa vez, quando cumpriam uma missão de capturar um foragido, ao chegarem ao pequeno edifício em que ele morava, Ricardo foi interpelado pelo porteiro dizendo que era proibido fumar ali. Irritado e esquecendo-se de que estavam em operação discreta, passou a discutir aos gritos com o porteiro, insistindo que iria fumar sim e que era polícia. Ao ouvir os gritos e principalmente a palavra polícia, o procurado pulou uma janela no terceiro andar e fugiu pelo prédio vizinho.
   Agora estavam os dois ali não, um tentando acertar a cara do outro e o outro se defendendo. De baixa estatura, bigodes de Omar Shariff, o delegado sacou sua arma e, aos gritos, mandou os dois pararem com a briga. Depois que os brigões se acalmaram, o delegado definiu:
   - Não adianta chorar sobre o leite derramado. A merda já está feita. É o seguinte. Vocês passam umas pomadinhas no cara e levam ele para casa. Peçam desculpas e digam que vocês se enganaram. Se ele reclamar muito e ameaçar levar o caso adiante, lembrem de que coisa pior pode acontecer pra ele ou pra família dele. E sigam a investigação. Se não foi o eletricista, então vocês têm que descobrir quem foi. E não vou admitir enganos desta vez.
  

Empregada doméstica teria sido a autora do furto das joias?

 Com o rabo entre as pernas, os dois grandalhões levaram o ex-suspeito para casa e se concentraram para desvendar o caso.
  – Se era mão de mulher, então temos duas suspeitas – a empregada e a filha da velha – raciocinou o mais espertinho.
  – É, mas pode ter sido a própria velha, que já tá gagá e tirou o dinheiro dali e não sabe onde enfiou. Ou ela tá de sacanagem – opinou o outro.
   Ao investigar a vida da filha da vítima, os policiais descobriram que as duas brigavam muito. A mãe continuava querendo governar a vida da filha, embora ela já estivesse com 32 anos. Por causa disso, ela já desfizera dois noivados e não pensava mais em se casar.
  – Vamos apertar ela que ela conta onde está as jóias – sugeriu Ricardo, o inspetor mais burrinho, que já se esquecera do bode que deu a história do velhinho eletricista.
   Eduardo, o outro inspetor, contou até dez, suspirou e apenas comentou:
   – Vamos seguir investigando.
   A empregada, de 20 anos, havia sido trazida do Interior. Nada havia em sua ficha na Capital ou em Dom Pedrito, na Campanha, onde ela nascera e crescera numa estância onde o pai era peão. Foi por meio de uma vizinha, que os policiais ficaram sabendo de um namorado dela, que a encontrava às escondidas na praça, a meia quadra da casa. Ao levantar o nome do rapaz, os agentes descobriram que ele tinha antecedentes por furto e assalto. Levada à delegacia, a empregada não resistiu à pressão do interrogatório e confessou que pegou as joias a pedido do namorado, a quem ela disse nunca ter mais visto. Com os dados dele, os policiais o prenderam, mas disseram à velhinha que as joias haviam sido vendidas a um receptador e não foram mais localizadas.