terça-feira, 12 de julho de 2016

O REVISOR E O GOLEIRO

O revisor é como o goleiro, o guardião do último baluarte, aquele que precisa salvar todos os erros e que não pode, ou não deve, falhar. Como o goleiro, o revisor faz inúmeras defesas, algumas extraordinárias. Mas basta uma falha para cair em desgraça.
     A vantagem do goleiro em relação ao revisor é que o jogador tem sua atuação assistida por todos - público no estádio ou na TV. Todos os seus acertos e erros são conhecidos. Já os acertos do revisor só são conhecidos por ele mesmo porque, na maioria dos casos, nem mesmo o autor se dá conta do equívoco que cometeu. Não é ético para o revisor dar publicidade aos erros que conserta. Não é honesto cobrar dos autores e muito menos contar aos chefes. Quando o revisor deixa erros passarem, todos tomam conhecimento: os leitores, em primeiro lugar, os colegas, todo mundo, da mesma forma que é conhecido o frango do goleiro.
   Goleiro e revisor têm em comum o fato de que precisam atuar com extrema atenção e em nenhum momento se desconcentrar. O goleiro costuma, como os outros jogadores, concentrar-se, antes do jogo e durante. A atenção é primordial. Um goleiro que se distrai olhando para a torcida ou para o azul do céu pode tomar gol de bola chutada lá da outra área. Já o revisor precisa manter o foco no texto e não se envolver com algazarras de redação. O revisor precisa de tempo para descobrir qualquer possibilidade de erro, além de acessórios de consulta em papel ou Internet. A correria do baixamento e o número reduzido de revisores dificulta isso. Hoje em dia, não existe muito interesse em valorizar os revisores e não sobrecarregá-los. Muitos chefes acreditam que os eventuais erros em matérias podem ser evitados apenas pelos repórteres e editores. O problema é que o dia a dia e a correria inata da profissão impedem a perfeição. Além disso, é preciso que alguém alheio à confecção do texto o examine. Normalmente, o cérebro de quem escreve tende a não detectar os próprios equívocos. 
 O goleiro precisa apenas conhecer a sua atividade e técnica para não deixar a bola entrar, além de um bom preparo físico e muito treinamento e confiança obtida com os jogos. O revisor precisa de preparo intelectual e dominar a Língua Portuguesa, além de conhecimentos de outros idiomas.

Revisor bom é como o goleiro Rogério Ceni

Maior goleiro do mundo de todos os tempos é craque em impedir gol e em fazê-los

O bom revisor é o que, além de impedir eventuais descuidos e ajudar a preservar o uso correto do idioma e de palavras estrangeiras, quando for o caso, pode contribuir com informações que não foram contempladas no texto, sempre respeitando o repórter e o editor. Como o goleiro que, além de impedir gols, vai além de sua cidadela, cobrando faltas e pênaltis e fazendo gols como Rogério Ceni, o melhor goleiro do mundo de todos os tempos, recordista em gols marcados. Isso sem descuidar da sua função.
Uma diferença entre goleiros e revisores é que os primeiros permanecem valorizados, para o bem do futebol, diferentemente dos segundos; cuja tendência é a extinção, para o mal da Língua Portuguesa e dos textos, nos quais se percebe um grande número de equívocos.

domingo, 10 de julho de 2016

AVOLICES DE JULHO

Outro dia, li no Facebook, na Linha do Tempo da minha amiga Cássia Zanon, mãe da pequena Lina, uma brincadeira sobre um questionário de filhos pequenos. Achei tão legal que decidi fazer o mesmo do meu neto, o Meu Pequeno Chefe, de seis anos. Imaginei que, no terceiro item, ele me interromperia e diria:
- Chega de perguntas, vô!
Mesmo assim, tentei. A cada pergunta minha, ele só me olhava e nada respondia e, então, desisti. Mas, como a missão do Raphael é me surpreender, ele saiu e logo voltou com uma pequena agenda nas mãos. Dentro dela, estavam as respostas que a mãe dele anotou para essas mesmas perguntas:


- Qual é teu nome?
- Raphael Nunes Knaak.
- Quantos anos tens?
- Hum, cinco, ops, acabei de fazer seis (risos)
- Quantos anos tem teu pai?
- Não sei.
- Quantos anos tem a tua mãe?
- Também não sei.
- Qual a tua cor preferida?
- Branco. E amarelo e laranja.
- Qual a tua comida preferida?
- Massa. Adoro massa.
- Quem é teu melhor amigo?
-- Fagundes, Schmidt, Pablo e Bê.
- Qual o teu programa preferido?
- Scooby Doo, Os Detetives do Prédio Azul.
- Qual a tua música preferida?
- Uma que os Alvins "canta".
Qual o teu animal preferido?
- Zebra; macaco e gorila.
Do que você tem medo?
...
Qual o seu lugar favorito para ir?
- O Zoológico
- O que quer ser quando crescer?
Jogador de futebol time verde.
O que a Mamãe mais gosta de fazer?
- Cuidar de mim e da Luísa.
Do que você mais gosta de brincar?
- Com bonecos de super-heróis com meus amigos e jogar videogame.
- O que o Papai mais gosta de fazer?
- Ele gosta mais de jogar videogame.
Mas que tanta pergunta, mãe? Eu gostei. Tem mais?

terça-feira, 5 de julho de 2016

CINCO RECANTOS DA BELA PORTO ALEGRE


RESQUÍCIOS DO TEMPO DOS BONDES ELÉTRICOS

          Milhares de pessoas que passam pelo Largo Glênio Peres nem notam um recanto ali do lado, como um recorte do passado. É uma viela entre o antigo abrigo dos bondes, um lugar bucólico que mostra no chão os trilhos sobre os quais os velhos bondes trafegavam.
          Depois do sistema dos maxabombas, os bondes puxados por mulas, iniciado em 1864,  em 1908 começou o tráfego de bondes elétricos. O nome bonde derivou-se da companhia Bond And Share, da General Eletric, em 1928, para quem passou o controle acionário. Em 8 de março de 1970, o bonde circulou pela última vez. Conforme a Wikipédia, ao longo da história dos bondes elétricos na cidade circularam nada menos de 10 belgas, 89 ingleses e 130 americanos, durante o ano de 1961 foram transportados 89 milhões de passageiros sendo utilizados para isso 103 bondes. Recentemente surgiram ideias de retomarem a utilização dos bondes elétricos, ainda que fosse apenas para incrementar o turismo, mas nada  se concretizou.
O poeta Mario Quintana assim homenageou os bondes:

"Acabaram-se os bondes amarelos...
A frase me saiu em decassílabo, viste?
E o metro clássico já faz adivinhar um
soneto. Ficou neste verso único.
E deixo o bonde depositado em meu
ferro-velho sentimental. Aqui. Parado.
Sonhando.
Quem sabe se um dia..."



UMA GRUTA NO MEIO DO  CENTRO HISTÓRICO

           Outro lugar curioso no Centro Histórico é uma gruta localizada na Rua Vigário José Inácio, entre as ruas Jerônimo Coelho e Riachuelo. No local funcionava o residencial Madre Ana, que foi doado em fevereiro deste ano pelas Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã para ser utilizado pela  Irmandade da Santa Casa de Misericórdia como abrigo para familiares de pacientes vindos do interior do Estado ou de qualquer outro lugar. Muitas pessoas que passam pelo local não percebem a existência dessa gruta.
 Até maio desse ano, a gruta era frequentada por eventuais pessoas que transitavam pela Rua Vigário José Inácio e descobriam o lugar. A sala da gruta tinha uma grade separando os fiéis da estátua para preservá-los de vandalismo, já que ficava sem vigilância alguma. Vi muitas pessoas se ajoelharem por ali e dividirem com a Santa, em pensamento, as suas angústias...Todos os dias, um casal de missionários promove rezas de terço para as pessoas que procurarem a gruta.



                           APOIO PARA FAMILIARES DE PACIENTES


  A casa de apoio conta com quatro andares e 60 quartos. Abriga familiares de doentes que fazem tratamento na Santa Casa e que não têm condições financeiras para se manterem na Capital. O primeiro  a ocupar a casa foi um familiar de um paciente que veio do Maranhão. Foram abertas, inicialmente, vagas para abrigar 30 pessoas, com planos de oferecimento de mais 30 nos próximos meses. A casa de acolhimento está localizada a aproximadamente quatro quadras da Santa Casa, o que dispensa despesas de locomoção para os familiares dos doentes.
Conforme o site Doutor Coração, a casa é comandada por um conselho provedor
 formado por Alfredo Guilherme Englert, Júlio Flávio Dornelles de Matos, Dom Jaime Spengler, Fernando Lucchese, Germano Mostardeiro Bonow, além de representantes das Irmãs Franciscanas e dos grupos de voluntários que atuam na Instituição, como o Voluntárias pela Vida, em campanha de arrecadação de fundos para auxiliar na manutenção do espaço. Para oferecer moradia, alimentação e dispor de materiais de limpeza e de higiene para os 30 hóspedes, o acolhimento terá uma despesa média mensal de R$ 80. Quem estiver interessado em contribuir financeiramente com a causa, poderá fazê-lo da seguinte forma:

Depósito em conta no  Banco Itaú, agência 5906, conta 17293-6, CNPJ 92.815.000/0001-68 ou carnê de contribuição de R$ 60 por mês, pelo período de um ano.

 


Entrada da gruta
Entrada da Associação Madre Ana
Local de reza para passantes que descobrem a existência da gruta
A ESCADARIA DA RUA JOÃO MANOEL

Projeto original criou belvedere para apreciação do Guaíba 
A duas quadras do Palácio Piratini, uma antiga escadaria liga a parte alta da Rua Duque de Caxias e a parte baixa, na Rua Fernando Machado. Até o início do século XX, existiam diversas ruas para esse acesso. Devido a problemas estruturais, essas vias viraram becos fétidos pelo acúmulo de lixo. Um dos que mais problemas apresentavam eram o que existia no fim da Rua João Manoel. Devido ao forte declive, foi aprovado em 1928 um projeto da Seção de Desenhos da Comissão de Obras Novas determinando escadas e rampas no local, conhecido no século XIX como Ladeira da Formiga. O projeto era do arquiteto Christiano de La Paix Gilbert e a edificação a cargo da construtora de Thedor Wiederpahn. Um terço da obra foi custeado pela família Chaves Barcelos, dona dos imóveis de todo o quarteirão. O restante foi arcado pelos cofres públicos.
   A escadaria apresenta balaustrada na parte alta. Logo na descida, há um amplo patamar com duas escadas laterais para chegar à parte intermediária. Dois bancos chegaram a existir no local com dois conjuntos de luminárias. Era uma espécie de mirante para o Guaíba, quando não havia prédios e o crescimento irregular das árvores. 

Quando ainda dava para ver o Guaíba
Primeiro lance de escadarias
Duas partes de escada antes do mirante
Início da descida da escadaria no fim da Rua João Manoel

   Como em muitas outros recantos da Capital, a escadaria, tombada pelo patrimônio público da prefeitura apresenta-se bastante descuidada com depredações, sujeira, pichações e até mesmo servindo de morada para sem-teto que despejam nela necessidades fisiológicas. Mesmo sendo limpa pelos garis, o estado é lamentável. Além de não ser mais apreciada como um recanto aprazível, também não é utilizada com frequência como passagem da Duque de Caxias para a Fernando Machado ou vice-versa. 




No vão do canto esquerdo, sob a escadaria, fica a saída do túnel, que dá no pátio do arquivo, que ficava na margem do Guaíba
TÚNEL QUE LIGAVA PALÁCIO PIRATINI AO ARQUIVO

Ainda é um mistério para alguns historiadores a existência dos túneis, cujas algumas entradas (e saídas) aparecem no Palácio Piratini e no Arquivo Público. Alguns pesquisadores dizem que a origem remonta muito além da época da Guerra dos Farrapos, quando o então governador da Província usou o caminho secreto saindo do Palácio, passando por baixo de onde hoje é a Assembléia Legislativa e saiu no Arquivo Público, na Rua Riachuelo e então pegando o navio, já que o Guaíba chegava à altura da Rua da Praia. Consta que, ao tomarem Porto Alegre, os farrapos conheceram cinco túneis com saídas para os lados que levavam ao fim da cidade, nos Altos da Santa Casa e Praça do Portão, na atual Fernando Machado e na Riachuelo, que já foi mencionado.

Saída do túnel no canto  esquerdo
Atualmente o túnel está bloqueado

Detalhe da porta do túnel




ESCADARIAS DA TRAVESSA 24 DE MAIO

Situado entre a Avenida Borges de Medeiros e a Avenida André da Rocha, no Centro Histórico da Capital, a Travessa 24 de Maio chama atenção de quem decide subi-la. O detalhe mais interessante é que os degraus são usados como cadernos de poesias. Essa escadaria foi construída em 1942, 28 anos depois da construção do Viaduto Otário Rocha. localizado uma quadra a oeste. O local se chamava Beco da Fonte. Em 2007, houve uma remodelação promovida pela Associação de Amigos da 24 de Maio e adjacências.
A surpreendente modificação, porém, ocorreu entre o final de 2011 e início de 2012, quando foi desenvolvido no local uma intervenção artística chamada Artemosfera, um circuito de arte urbana promovido pela RBS com apoio de Tintas Renner e prefeitura de Porto Alegre, com patrocínio de Chevrolet, Zaffari, Braskem e Tim.
A artista plástica escolhida, Clarissa Motta Nunes, fez um trabalho excepcional. Não apenas restaurou as escadarias como tornou um local um cartão postal da cidade. Durante seu trabalho, Clarissa entrevistou os moradores da travessa que já tinha o nome de 24 de maio, em homenagem à data da Batalha de Tuiuti durante a Guerra do Paraguai. Baseada na célebre escadaria Celeron, que liga o bairro da Lapa ao Convento de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, a artista utilizou 3.300 peças. Nos degraus, deixou poesias e frases ouvidas durante as entrevistas dos moradores do local, colocando ainda poemas de autores famosos como Carlos Drumond de Andrade, Paulo Leminski, Erasmo Carlos, Rita Lee e outros.





  


Referências:
Wikipédia
Blog ArquivoPoa- A Memória de Porto Alegre -  www.arquivopoa.blogspot.com.br




sábado, 2 de julho de 2016

AMIGOMEU E O UBER

Amigomeu, outro dia, quase apanhou do Uber. Pois já lhes conto. Vocês sabem que ele é muito tosco, que, às vezes, não  entende bem as coisas. Quando ouviu falar pela primeira vez sobre esse sistema por ora clandestino de táxi, soube que o passageiro é alvo de muitos mimos e regalias, como aguinha gelada e balas. Algo com que os taxistas convencionais não se importam, principalmente alguns broncos como ele. Disseram que os motoristas modernos,  chamados via computador, são cheios de salameleques como abrir a porta para o cliente, oferecer bombons e outros afagos que você nem imagina. Impressionado, quando foi viajar para Bagé, Amigomeu pediu a uma vizinha da Cidade Baixa que chamasse o Uber pelo celular dela.  Pensou até em tomar um mate no caminho. Quando o carro preto chegou,  ele perguntou quanto custaria uma corrida até a Rodoviária:
- Uns dez reais.
- E quanto me cobras pelas malas?
-  A bagagem em levo de graça.
- Mas bá, tchê, que maravilha! Mas que beleza! Vamos fazer assim. Tu me leva as malas e deixa na lancheria dum amigo meu na rodoviária que eu vou caminhando até a Alberto Bins pra comprar uns foninhos e de lá vou a pé, porque é pertinho.
O motorista do Uber não sabia se o passageiro estava brincando ou era louco. Foi aí que Amigomeu quase apanhou.
I.F. 100%