domingo, 8 de maio de 2016

HOMENAGEM NO DIA DAS MÃES

Eu te abençoo, meu filho!
Paulo Mendes


Estás lindo, meu filho, com os cabelos grisalhos, o rosto sulcado de sol e chuva, as mãos sovadas de rédea e enxada. E esses olhos matreiros de ver até no escuro. Era para o fundo de teus olhos que sempre olhava, lembras? Desde que nasceste naquela madrugada fria de agosto, quando a parteira me entregou teu corpinho tão franzino, enrolado nas mantas, eu já sabia, e pensei comigo: “Esse vai domar essas éguas, só vai apear do lombo do cavalo para tomar água”. E cumpriu-se. Não deu outra. Foste sempre meu orgulho, topete empinado, nunca te curvaste para os homens, nunca te humilhaste, por isso permaneceste pobre, mas digno. Sempre te apoiei, lembras, meu filho? E tu dizias: “Nunca serei capacho, jamais abaixarei minha bombacha, porque quanto mais eu abaixá-la, mais minha bunda vai aparecer”. Estás lindo, meu filho, com esse jeito altivo de trabalhador, simples e honesto. Lembro-me que foram lá no nosso bolicho, certo dia, elogiar tua honestidade. E eu disse: “Ser honesto e reto é uma obrigação de todos os homens e mulheres”.

    Não chores, meu filho. Eu te deixei, mas nunca te abandonei, sempre te protejo e ilumino tuas ações e passos. Tu não me ouves, eu sei, mas isso não importa, porque teus trabalhos sempre foram claros, como tua alma. Sim, sei que tens saudades de quando estávamos juntos, quando eras gurizinho, de quando te contava as lendas, te cobria com palas e ponchos velhos e furados. Mas eu sentia que gostavas tanto, que te sentias protegido. Não importa, meu filho, seguirás amado, porque daqui onde estou ainda posso te ajudar, embora não saibas. Lembras daquele dia em que querias cruzar o vau com a enchente? Fui eu que te puxei pelo braço e o fiz voltar. Naquela tarde a correnteza estava muito forte. Eu vivo te salvando, meu filho, pois segues como sempre, intempestivo e descuidado, mas por isso mesmo também fico aqui, de onde estou, te olhando.

     Reze meu filho, reze por mim e por todas as mães. Elas merecem, porque sofrem, dão a vida pelas suas crias que crescem e se vão estrada afora, como dita o destino. Ah, meu filho, Deus me deu a graça de te parir, só você, um único filho, mas para mim foi dádiva. Então agradeço. E tu, sempre no Dia das Mães, ora por mim, fala comigo. Por isso te guio e te espero, meu guri, todos os dias, todos os meses, todos os anos, pacientemente, como fazem as mães gaúchas e todas as outras. Vai, agora cumpra o resto do desígnio que a ti foi destinado. Mas saiba, tua mãezinha está ansiosa para te reencontrar outra vez. Ah, e que linda está minha neta, parece a avó ainda menina, com seus olhos de graça e de luz. Vai, eu te abençoo meu filho adorado, porque um dia seremos todos e unos, só um amor repousado na eternidade...


Este texto está na coluna Campereada do Caderno Rural do Correio do Povo deste domingo 9 de maio. 

Paulo Ricardo Cuha Mendes nasceu em 24 de 12 de 1972 em Cacequi, na região central do Estado e viveu sua infância no município vizinho de Júlio de Castilhos, que muito antigamente se chamava Vila Rica, nome que o autor utiliza para situar seus textos.
Paulo Mendes é editor de Geral do Correio do Povo e atua como colunista do mesmo jornal. É autor dos Livros "Campereadas", "Campereadas 2" e "Um Bardo Desgarrado", este último sobre a obra do escritor Aureliano de Figueiredo Pinto.

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