segunda-feira, 14 de março de 2016

DECODIFICANDO UM DOS MENORES CONTOS DO MUNDO

 Outro dia criei um texto para brincar de disputar a feitura de do menor conto do mundo e publiquei aqui no meu blog. Repito-o, agora:

(Título) Solidão

(Texto) Silêncio no quarto.

Acredito que lendo esse minúsculo conto você pode tirar daí uma imensidão de situações, sensações, histórias e imagens que nele estão contidas, resumidas. Como sou um profissional das palavras, não me contive ao relê-lo e decidi decodificá-lo, desmembrá-lo, desfiá-lo, desenrolá-lo.



"Solidão. Silêncio no quarto. É um outro quarto. Um outro tempo. Na memória, ouço barulhos que aqui já não há, que se fizeram ouvir nos perímetros de um outro quarto. Não mais ouço os sons que cortavam intermitentemente o silêncio da noite. A começar com o ressonar dela, em nossa cama. Sibilam poucas palavras que escapam dos sonhos, indecifráveis, quase imperceptíveis. Já não há mais os latidos dos cães, os miados frenéticos dos gatos no bordel dos telhados, nem os gritos de jovens elitizados no final da balada. Nem o compasso dos passos apressados contra o chão da calçada, atrasados ou temendo o perigo dos assaltos. Na madrugada, seria hora de os passarinhos iniciarem suas aulas de canto, espreguiçando-se nos galhos das árvores. Daqui a pouco, seria o momento de o galo fazer seu solo épico, ignorando que agora existem celulares que nos acordam sem barulho. Em minutos, se ouviria o baque do jornal caído na varanda, jogado pelo entregador por sobre a cerca elétrica. Quantas e quais notícias se abrigariam na sequência das páginas. Mais um pouco e já se destacariam na rua os risos das crianças a caminho da escola.
   Na cozinha, já não há ruído de talheres e xícaras. Nem o som da TV deixada ligada com os apresentadores do noticiário contando as boas e as más notícias. Já não se sente o delicioso aroma do café. O silêncio aqui e agora é absoluto. Já não ouço sequer o batimento do meu coração. Já não ouço a minha própria respiração. Já não ouço mais nada. Já não vejo mais nada. É só o silêncio da solidão."

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