sexta-feira, 31 de outubro de 2014

OS PASSOS INICIAIS DA HISTÓRIA DA BICICLETA

O Google é sensacional, mas ainda é relativamente novo e não tem tudo o que a gente procura. Por isso, sou apaixonado por livros antigos. Na semana passada, me caiu às mãos uma obra, editada em 1961, chamada Conquistas Humanas e me surpreendi com um volume que fala sobre a evolução dos transportes no mundo. E me prendi ainda mais sobre a parte que fala da bicicleta. Posto esse texto a seguir como uma homenagem a ex-colega, Poti Siqueira Campos, um apaixonado pelo veículo mais econômico e ecológico que existe.


      "A bicicleta nasceu do aborrecimento de um homem obrigado pelo seu trabalho a andar continuamente e desejoso, por razões diversas, de poupar seus pés nas andanças diárias. Chamou-se ele Draîs, um inspetor florestal em Baden, Alemanha. Era sua obrigação percorrer trechos dos bosques confiados à sua guarda. Isso o ocupou anos e anos. Cansado de bater pernas, sonhava com um veículo para seu uso pessoal enquanto via passar carruagens pela estrada real e os pesados carros dos camponeses pelos caminhos transversais.
  Draî deu muitos tratos à bola até que, em 1871, ligou duas rodas de madeira, uma adiante da outra. Sobre a trave de ligação, empoleirou-se em uma incômoda situação pois ficava obrigado a um esforço ainda maior do que o de andar. Devia permanecer curvado para um dos lados e empurrar o veículo com repetidos e fortes impulsos de pé sobre o solo.
  Houve riso, vaias, correrias de moleques e Draî teve que superar um dos piores acompanhamentos de ironias que a história registra ao lado dos transportes. Não parece que ele se tenha incomodado com isso. E nem devia. Pois o resultado foi que à força de empuxões com os pés, conseguiu vencer em apenas uma hora a distância que usualmente exigia quatro horas. Era o triunfo para a nova modalidade de veículo.
Apesar disso, a popularização não aconteceu. Era por demais custoso e só alguns poucos encontravam vantagens no esforço e na descomodidade próprios do veículo. Um que outro esportista exibia a sua resistência lutando contra a falta de equilíbrio. Um deles foi Ernest Michaux, filho de um serralheiro francês. Além de esportista, dispunha de uma oficina. Não só se utilizava do veículo como se preocupava com a sua forma rústica, severa demais para ganhar o apreço do público.
  Desse esforço de Ernest surgiu, em 1855, invenção do pedal. Os primeiros foram precários, igualmente de madeira, difíceis de fazer render. Mas Ernest alcançara um resultado suficiente para fazer com que sua família transformasse a serralheria em fábrica de veículos. Surgiu então o nome de biciclo, para esse antepassado da bicicleta (de bi, dois, e kiclos, círculos ou rodas). Um dos grandes atrativos da exposição universal de 1867 foram os biciclos de Michaux, então já uma celebridade europeia.
   Dois anos depois, surgiram modelos de ferro, o que deu maior robustez e durabilidade aos biciclos. A coisa foi ficando muito mais interessante quando um mecânico observador, Truffault, inventou em 1885, novos dispositivos como a caiba oca e aplicou a borracha  nos rodeiros permitindo um deslizar macio e convidativo.
  Então sim, o biciclo vulgarizou-se e, além de receber a preferência como veículo de transporte individual, fez surgir vitoriosa modalidade esportiva. Novos usos, novos tipos. Com estes, os exageros que chegaram ao máximo com os modelos apelidados de "aranhas" por causa dos compridos e obrigatoriamente finos raios da roda dianteira. Nesses biciclos "aranhas", a roda dianteira tinha comumente 1,5m de diâmetro, enquanto a traseira apresentava, também, em média, 40cm mais ou menos. Consequência principal e desagradável: ao menor esbarro, a roda traseira erguia-se e atirava oi passageiro sobre a dianteira. O propósito de corrigir tais defeitos, aliado àquele de produzir m biciclo capaz de maior velocidade média, com ao estabilidade, foi o que realmente produziu a bicicleta atual.
  O passo técnico para tanto foi conseguir a transmissão de força por meio da corrente contínua, auxiliada pelo diâmetro levemente desigual das duas rodas dentadas. O grande quadro direito que de à bicicleta equilíbrio, estabilidade e estética foi a última grande inovação realmente proveitosa. O primeiro modelo desse tipo acabado de bicicleta foi inglês e circulou por volta de 1880.
   Cada fabricante (e logo surgiram dezenas em todo o mundo) procurou introduzir inovações que se limitaram a detalhes. O aspecto geral e final estava traçado , e a bicicleta partiu a carregar multidões pedalantes em todos os continentes. Criaram-se tipos para mais de um passageiro.  O modelo "tanden", o duplo, levava duas pessoas. Mas chegou-se a fabricar nos Estados Unidos, bicicleta para dez pessoas. Inovação que não durou e só valeu pelo que oferecia de pitoresco.
                           Uso militar
  Um tipo militar também foi criado. O capitão Gérard, encarregado de um setor de transporte do exército francês, deu-se conta das grandes vantagens que o uso militar da bicicleta poderia oferecer não só para a transmissão de ordens como para o avanço mais rápido de tropas. Gérard sonhou com um corpo de infantaria montada... em bicicletas. Os soldados avançariam velozmente cobrindo em um dia distâncias que, em marcha normal, exigiriam três. Formidável em termos de tática e estratégia. Para completar o plano, Gérard idealizou um tipo especial de bicicleta: o tipo "dobradiça". Em terreno que não permitisse o uso do veículo, os soldados dobrariam a sua bicicleta em duas, colocariam como parte da mochila comum e seguiriam a marcha até alcançar solo favorável.
    A bicicleta sempre foi apreciada pelas forças armadas, principalmente antes, durante e imediatamente após a I Guerra Mundial.  Mas os planos de Gérrard jamais foram inteiramente aprovados e executados. Desde quando a bicicleta exigia que se esfregasse o pé no chão, havia resistência ao seu uso. Tal resistência continuaria, a menos que se encontrasse um modo para eliminar o esforço físico na condução dfa bicicleta. Foli desse objetivo que nasceu a motocicleta.


Texto de Hermani Donato, no livro Conquistas Humanas, editado em maio de 1961.
  
  

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

POR QUE SANTOS DUMONT BATIZOU SEU PRIMEIRO AVIÃO DE 14 BIS?

Que eu sou louco por curiosidades, o próprio nome do blog já indica. O que me impressiona é que me caem às mãos, todos os dias, preciosidades que eu nem estava procurando. Na empresa em que trabalho, colocaram, na sala de estar, uma estante grande e, nela, um tesouro para quem, como eu, adora ler livros antigos. São enciclopédias, biografias, dicionários e outros livros. Todas as manhãs, nos intervalos, estou devorando as páginas. Em uma delas, descobri que a origem da palavra "meta" tem a ver com as antigas corridas das bigas. É que, em um dos jogos em que as carrocinhas romanas eram utilizadas, elas tinham que passar em volta de colunas que os romanos chamavam de "metae". Daí veio o significado de meta como objetivo a ser atingido, seja no jogo de futebol (meta, guarda-metas), seja nos projetos das empresas.
  O mais curioso foi que ontem, no Dia do Aviador, por coincidência, eu estava lendo sobre a história dos transportes e exatamente sobre o início da aviação. Fiquei maravilhado ao descobrir o porquê de Santos Dumont ter batizado o primeiro avião dele de 14 Bis. Por isso, o primeiro leitor que responder a essa pergunta, colocando a resposta aqui nos comentários, ganhará um livro. Não é sobre avião, mas de histórias sobre passageiros de táxi. Se você for o primeiro, envie se endereço para o e-mail plinioopnunes@yahoo.com.br e receberá em casa, sem custos, o livro Taxitramas, Diário de Um Taxista, de autoria do meu amigo Mauro Castro. Vale conferir no google, perguntar aos universitários, consultar as cartas, pedir ajuda até ao Sílvio Santos. Boa sorte.

POR QUE O PRIMEIRO AVIÃO SE CHAMOU 14 BIS?
Aguardo a sua resposta.

domingo, 12 de outubro de 2014

TACA-LHE PAU NESSE CARRINHO NA DESCIDA DO MORRO DA VÓ VALDELINA

  Eu estava aqui pensando. Acho que sou uma das pessoas mais curiosas que eu conheço, se é que me conheço bem. Meu amigo Renato Gava, porém, é muito mais curioso do que eu. A maior maldade que se pode fazer a ele é adiantar que tem algo a lhe contar mas que, no momento, não tem tempo, porque precisa sair. Pois ele vai tentar atrasar a sua saída, segurá-lo pelo braço ou pela roupa e até acompanhá-lo até onde puder, insistindo efetivamente para que você lhe conte. Na próxima vez em que vocês se encontrarem, antes de dizer "olá", ele perguntará o que era aquilo que você iria lhe diz
     Pois eu me lembrei do Gava e de mim mesmo, ao ver hoje, na TV, o primeiro comercial do "Taca-lhe pau Nesse Carrinho, Marcos", Minha curiosidade, nesse caso, já havia sido satisfeita com o Facebook, porque me levara até a origem da expressão. Em dezembro do ano passado, dois garotos gravaram um vídeo sobre uma descida de carrinho no Morro da Vó Valdelina, avó deles, em Taió, Santa Catarina, colocaram no youtube e quase todo mundo viu.
    E sempre me interesso pra saber de onde surgem as gírias, as expressões e os nomes. Isso me fez lembrar também do amigo facebookiano Ari Riboldi, autor do livro O Bode Expiatório, sobre expressões curiosas. Repetimos, normalmente sem saber a origem, ditos como "Agora é tarde, Inês é morta", "A ficha ainda não caiu", "Até aí morreu Neves", além do atualíssimo Taca-lhe pau nesse carrinho, Marcos Veio.Sobre a Inês, li em um livro do pesquisador Câmara Cascudo e transcrevo aqui, do Google: A história aconteceu em Portugal. Inês de Castro foi amante do príncipe Dom Pedro I (1320-1367), de quem era prima. O pai dele, Afonso IV, mandou exilá-la e prendê-la em um castelo. Além disso, obrigou Dom Pedro a se casar com uma dama da corte. Em 1345, quando morreu Constanza, a mulher de Dom Pedro, ele trouxe Inês para viver com ele e teve quatro filhos com ela. Afonso IV então mandou eliminá-la. Após a morte do pai, Dom Pedro prendeu os matadores de Inês, colocou o cadáver da amada no Mosteiro de Alcobaça e a declarou rainha mesmo depois de morta. Essa história foi contada por Camões em sua obra Os Lusíadas, e a frase "agora é tarde, Inês é morta foi se repetindo na cultura portuguesa e ocidental.
Os jovens e os que ainda virão talvez repitam que a ficha ainda não caiu com ideia do significado, mas sem saber de onde ela saiu. É que já não há mais fichas telefônicas e os telefones públicos estão praticamente obsoletos em tempos de Internet, celular e mídias sociais. É que, introduzida uma fichinha para fazer funcionar o orelhão, a ligação custava a se confirmar, daí a expressão. E Joaquim Pereira Neves foi um assessor do Padre Feijó, brutalmente assassinado, decapitado por indígenas, o Neves, não o regente. Logo após a morte, e durante algum tempo, não se falava em outra coisa no Rio de Janeiro, então capital do Império. Aí algum malando do tipo do Guri de Uruguaiana, criou a expressão Até aí morreu o Neves, querendo alguma notícia que não fosse da morte do assessor do Feijó.