sexta-feira, 15 de março de 2013

DA SÉRIE "NÃO DISCUTAS COM..."

                                                                                         Atualizado em 4/5/2016
Não discutas com um jornalista. A menos que você seja também jornalista. É que eles são treinados para fazer perguntas embaraçosas. Uma resposta puxa outra pergunta e ele remexe no baú das histórias e lá vem outra pergunta. E o pior é que, mesmo se reconhecer que está errado, se pedir desculpas, se der direito de resposta, o jornalista vai querer sempre ter a última fala. Se você tem mesmo razão, então procure outro jornalista para falar sobre o assunto. Ou um advogado.

Não discutas com um advogado. A menos que você seja um advogado. Eles são treinados para ganhar qualquer discussão, mesmo que não tenham razão. E também são treinados para fazer perguntas embaraçosas, remexer no baú das histórias. Discutir com advogado é muito mais perigoso do que discutir com jornalista. Uma pergunta puxa uma resposta, que puxa outra pergunta que pode causar uma resposta que pode acabar em processo. E aí você vai ter que contratar outro advogado. E advogado adora processos, faz parte da natureza jurídica dele. Se achas que tem razão, procure outro advogado, mas cuidado. Ou procure um jornalista, ou um promotor.
* Homenagem ao meu irmão José Itamar Pereira Nunes, bacharel em Direito, e a todos os meus amigos advogados.


Não discuta com um médico. A menos que você seja médico. Ele foi treinado para saber muito mais de você do que você mesmo. Ele sabe de dores que você está sentindo que você nem sabia que estava sentindo. Ele resolve alguns problemas que você nem tinha antes de conhecê-lo. O médico sabe tanto sobre o corpo humano que escreve em uma letra que você não consegue decifrar. E mesmo que ele digitasse o texto e tirasse uma print, você não entenderia. Mas ajudaria muito os balconistas a achar os remédios na farmácia. Se você acha que tem razão, procure outro médico, ou um advogado, ou um jornalista, ou um promotor.

* Homenagem ao médico Carlos Alberto Pimentel, meu ex-colega de jornalismo do tempo da Folha da Tarde e a todos os médicos que cumprem o juramento de Hipócrates salvando vidas, sanando dores e evitando problemas de saúde.


Não discuta com um policial. A menos que você seja um policial, de preferência mais graduado do que ele. Policiais são treinados para mostrar que têm autoridade e, dependendo da discussão, podem considerar qualquer coisa como desacato à autoridade. Alguns policiais demoram para entender o que está acontecendo e, pelo sim, pelo não, são inclinados a achar de cara que é você o errado. Policiais dificilmente reconhecem totalmente que estavam errados e, mesmo que reconheçam, ainda acham que, de alguma forma, a culpa pelo engano foi sua. Se você está errado, está fora da lei, azar o seu, tem é que ser punido. Mas, se estiver com a razão, procure a corregedoria, ou um jornalista ou um advogado.

  * Homenagem aos meus amigos Jairton Pescador e Hilário Olmar da Silva, policiais civis, e Geverson Ferrari, policial militar, e a todos os funcionários da segurança que cumprem realmente sua missão de proteger os cidadão, arriscando suas vidas e até de seus familiares para combater o crime.


Não discutas com torcedor fanático de futebol. Menos ainda se for torcedor adversário. Torcedores fanáticos amam mais o clube do que os próprios pais ou filhos. Eles sabem tudo sobre o próprio clube, sobre o seu time e sobre todos os outros. Diante de qualquer elogio que você fizer à sua própria equipe, ele vai remexer o baú da história e encontrar algum detalhe embaraçoso do seu time, alguma derrota implacável, algum eventual fiasco. E mais. Vai buscar todos os títulos que o clube dele conquistou, os jogadores que eventualmente passaram pela Seleção e até um craque que fez um gol inusitado que levou o time à vitória. Para torcedor fanático, seu time sempre foi, é e sempre será o maior do mundo, seus jogadores são os melhores, os gols são sempre legítimos, ao contrário dos pernas-de-pau do adversário, que fazem gols em impedimento ou com a mão e integram uma equipe eternamente fraca e merecedora de estar nas divisões mais inferiores do futebol. Os estádios do time do torcedor são luxuosos e um verdadeiro santuário do futebol enquanto os do outro são chiqueiros e potreiros. Para alguns torcedores, a derrota do adversário o deixa mais feliz do que a vitória da sua própria agremiação.

Não discutas com um fanático religioso. Eles foram hipnotizados ou pela história de suas famílias e, por isso, não admitem sequer que podem ter sido treinados erradamente, ou por discursos bem elaborados e psicologicamente convincentes ouvidos em momentos de fragilidade de suas vidas. Para o fanático religioso, a fé cega é o que importa. Uma pergunta sua poderá levá-lo a respostas já treinadas e a críticas sobre o que você pensa da vida, usando sofismas para contestar aquilo no qual você acredita ou se você não acredita em nada. O fanático religioso não apenas acredita na religião dele, mas tem como meta fazer com que todo mundo passe a pensar da mesma forma. Em relação ao religioso não fanático, o ideal é respeitar a opção dele da mesma forma que ele te dá o direito de ter sua religião ou não ter nenhuma.

Não discutas com militante político fanático. Não importa se é direita, de esquerda, anarquista, ou de qualquer outro matiz. Mesmo que seja do mesmo partido pelo qual você tem alguma admiração, o melhor é não discutir. Se você não concordar com ele em tudo, logo logo será acusado de estar infiltrado, de ser um adversário enrustido. Se for de outro partido, então vem chumbo grosso na hora. Para o militante fanático, seu partido é o melhor que existe, seus políticos são inteligentes, criteriosos, heróis da nação e incorruptíveis. Para qualquer deslize de seus correligionários, haverá uma explicação supostamente razoável. Alianças do seu partido com antigos adversários serão apontados como incoerência. Eventuais acordos do partido dele com antigos adversários são necessários em nome de uma luta para impedir que o inimigo chegue ao poder, ou para permitir governabilidade,  ou porque o contexto agora é outro. Uma pergunta sua levará o fanático a um sofisma brilhante e a uma busca no baú da política de onde trará inúmeros fatos negativos dos adversários, esquecendo-lhe os pontos positivos, claro, e as melhores ações já feitas pela sua agremiação política, esquecendo as  trapalhadas, os erros e, é obvio, eventuais crimes.


Atenção: Este post não sugere que as pessoas se omitam. Debater é preciso, com pessoas bem informadas e sensatas e nos foros ideais e não em uma discussão que não leva a nada a não ser ao estresse, à inimizade e até à violência.   


Um comentário:

  1. ... Agradeço pelo retorno!
    E também pelas palavras de conforto.
    Criei o blog há alguns anos (em 2009!) para divulgar e vender peças artesanais que faço; até criei site inclusive - só que estava dando problemas (a pessoa que o criou se mudou para longe e estava difícil manipular tal)_daí resolvi usar o blog. Postava coisas até sem muita importância (datas comemorativas/relatos de viagens), e como tive um problema familiar: a rotina em casa mudou (uma pessoa da minha familia ficou doente e faleceu há duas semanas - foi; e está sendo um susto e dos grandes! Só que estamos voltando ao normal... E estávamos preparado para o pior). Com o tempo chegamos lá.
    E voltando as coisas boas: então conhece o tal reporter (o FILIPE PEIXOTO), legal. O assisto as vezes na BAND; li numa rede social que ele é do interior - de DOM PEDRITO (até conheço pessoas de lá). E ele me lembra um ator brasileiro radicado nos EUA (chamado BRUNO CAMPOS_só que mais moreno). Só que imagino ser mais novo (o tal ator rem quase 40).
    É isso. Obrigado mais uma vez pelo retorno.

    Rodrigo

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