domingo, 24 de junho de 2012

LUÍSA E A FLOR DA FORTUNA

Luiza com a flor da fortuna
Há cenas inesperadas na vida da gente que nos fortalecem para que possamos enfrentar com serenidade os momentos mais difíceis. Uma dessas coisas me aconteceu na sexta-feira. Caminhávamos a Luísa e eu, com o Raphael no colo, na sexta-feira, a caminho da escola e da creche dos meus netos, quando formos surpreendidos diante de uma floricultura existente a uma quadra de casa, no Bairro Medianeira. De dentro do estabelecimento, saiu um jardineiro com um vasinho de flor na mão. Ele entregou para a Luísa e falou: Feliz aniversário, Luísa! Parabéns! 
  Todos os dias, quando ela passava na frente da floricultura, ela baixava a cabeça e não falava nada, por timidez, quando o seu Luiz brincava, perguntando se ela estava braba ou alegre. Dessa vez, ela sorriu e disse: “obrigada”. 
      Fiquei igualmente feliz com esse gesto surpreendente, iniciativa do próprio jardineiro. Lembrei-me de que normalmente damos mais destaque para as coisas negativas que acontecem nas nossas vidas e pouco ligamos para fatos tão importantes como esse. Comentamos tanto sobre atos reprováveis praticados por uma minoria da população generalizando e achamos que o mundo está perdido. Esquecemos-nos de realçar os atos meritórios dos melhores seres humanos, aquelas atitudes que são tomadas sem a intenção de receber algo em troca. E que nos dão a certeza de que um mundo melhor é possível. Aquele vasinho com a flor Kalanchoe blosfeldiana, originária da África e conhecida também como a flor da fortuna, iluminou o sorriso da minha neta, que completava sete anos, e esse gesto certamente nunca irá sair da memória dela. Nem da minha.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

RELENDO O TEMPO E O VENTO, DO GRANDE ERICO VERISSIMO


Glauco Rodrigues, aquarela sobre o papel, 1985, Acervo do Margs
     Depois que passa algum tempo, a gente nunca mais lê o mesmo livro. Mesmo tendo o mesmo título, os mesmos capítulos, as mesmas frases, as mesmas palavras, ainda assim não é aquele livro lido no passado. É que o leitor que agora folheia não é o mesmo menino ou adolescente que se impressionou daquela vez. Seus novos conhecimentos, sua vivência, fazem com que aquele livro se torne outro. Tanta coisa que pensava ser assim, agora nota que é diferente. Tantas dúvidas no texto agora se dissiparam. Ah, então era isso que o autor estava dizendo e não aquilo que entendi ou não entendi? Estou relendo O Continente, primeiro livro da trilogia O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo, enquanto aguardo o lançamento do filme produzido, com base na obra, em Bagé, Candiota e Pelotas. Que beleza de texto, que construções de frases, que diálogos fantásticos. Que relato didático sobre a história do Rio Grande! É o mesmo livro que li, mas é também um outro. O que permanece igual é esse frenesi que não me deixa parar de ler, que me impede de fechá-lo, que me impele linha por linha para uma nova emoção. Não sinto o vento, mas sinto o tempo. De tantas descrições perfeitas, destaco a do início:

ERA UMA NOITE FRIA DE LUA CHEIA. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão quieta e deserta parecia um cemitério abandonado. Era tanto o silêncio e tão leve o ar, que se alguém aguçasse o ouvido talvez pudesse escutar o sereno na solidão.”

O  AUTOR
 Érico Lopes Veríssimo nasceu em Cruz Alta (RS) em 17 de dezembro de 1905. Aos 13 anos, teve seu interesse despertado para a leitura e, a partir dai, escrevia contos para jornais e revistas de sua cidade. Transferiu-se para Porto Alegre em 1920, estudou no Colégio Cruzeiro do Sul, mas não completou o curso. Filho de uma família rica e tradicional que sofreu um sério revés financeiro, Erico voltou para sua cidade natal, trabalhou como balconista, bancário e foi sócio de uma farmácia e deu aulas de literatura e inglês. De volta a Porto Alegre, foi contratado pela Revista do Globo para o cargo de secretário de redação. Ali conviveu com autores renomados. Publicou seu primeiro livro, Fantoches, uma coletânea de contos, em 1932 e começou a ficar famoso com o segundo livro, Clarissa, no ano seguinte.     
     Erico escreveu livros para crianças como As Aventuras do Avião Vermelho, O Ursinho que Tinha Música na Barriga e Os Três Porquinhos Pobres. Uma de suas principais obras foi Olhai os Lírios do Campo, editado em . Em 1941, viajou para os Estados Unidos em missão cultural a convite do governo norte-americano. Casado com Mafalda Volpe Veríssimo, teve os filhos Luis Fernando, que virou escritor famoso, e Clarissa, cujo nome usou como título de um dos seus livros. Morreu de infarto em 28 de novembro de 1975. A casa onde ele nasceu, em Cruz Alta, foi transformada em museu em 1969. Além das obras citadas, e do épico O Tempo e o Vento, Erico é autor de várias obras como Incidente em Antares, Caminhos Cruzados, Música ao Longe, O Senhor Embaixador, Solo de Clarineta (memórias).

 .

quarta-feira, 13 de junho de 2012

PARA NÃO DEIXAR PASSAR EM BRANCO O DIA DOS NAMORADOS

     Amar é não precisar pedir perdão. E pedir, se precisar. E perdoar, se for possível. Amar é não dar motivos para desconfiar. E não desconfiar sem motivos. Amar é não sair fora diante de um problema qualquer. É resolver o problema junto com a pessoa a quem se ama. Se saiu, é porque não havia amor.
     Amar não é apenas fazer sexo. Viver junto e não fazer sexo também não é amar; pode significar amizade ou desamor. Amar é respirar o mesmo ar do outro sem sufocar nem sentir-se sufocado. É sofrer a mesma dor do outro e rir das mesmas coisas engraçadas.        
     Amor não se compra, não se vende, não se força, não se conquista; o amor existe ou não existe e nada no mundo consegue mantê-lo se dois seres não são destinados um para o outro.
  Para os românticos, apresento, a seguir, uma das mais belas poesias sobre o amor. Quem conhece, gosta de recordar. Quem ainda não viu normalmente se encanta.

SONETO DA FIDELIDADE
Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.




sábado, 9 de junho de 2012

REFLEXÕES NA CAMINHADA

                                                                    Acrescentado em 8/7/2012
       O voto é a única arma para impedir que maus políticos façam na vida pública o que fazem na privada.

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 Quando um amigo teu elogia o teu texto pode ser sinceridade. Ou apenas bondade. Quando quatro leitores que te conhecem te elogiam, pode ser sinceridade ou um minifãclube; apenas pessoas que gostam muito de ti. Quando cinco desconhecidos entre si repetem o elogio então é porque deve ser bom mesmo.


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 Quando um conhecido teu acha ruim o que escreveste, pode ser inveja. Ou não. Quando três pessoas que se conhecem entre si fazem o mesmo, pode ser complô. Ou não. Quando cinco pessoas que não te conhecem também criticam, então não é inveja nem complô. Aí o texto é que é ruim. 
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Existem três tipos de saudade, todos causados pela separação. O primeiro, menos dolorido porque há uma perspectiva de fim. É o da viagem. O segundo, um pouco mais dolorido, mas ainda é mais facilmente suportável por poder ser substituído. É o caso de não poder mais jogar futebol, ou de um amor que no fim não era assim tão verdadeiro. A mais grave é a saudade causada pela morte, que só é amenizada pelo tempo e pela boa lembrança deixada por quem se foi.


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As larvas, como as pessoas, se transformam em borboletas ou mosquitos. A beleza é reflexo daquilo que elas preferem: umas as flores, outras o sangue.

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   H
umorismo é aquilo que faz rir todas as pessoas. Se alguém é ofendido com a piada, então não é bom humor, é escárnio, fruto de algum tipo de inveja, recalque, disputa política ou preconceito. É, no máximo, humor de gosto duvidoso, mau humor ou reflexo de mau-caratismo.

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Ele não gosta de falar sozinho. É que sempre acaba brigando com ele mesmo.

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Críticos implacáveis e muitas vezes injustos alegam que, de boas intenções, o infermo está lotado. Esquecem-se de que, de más intenções, a Terra está muito mais cheia.

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 A Preguiça e sua irmã, a Comodidade, ajudadas pela outra irmã, a Inteligência, são as responsáveis pelas mudanças no mundo. Foi graças a elas que se criou a roda, usada para mover os objetos pesados e, a partir daí, todos os progressos para permitir o menor esforço físico possível.

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A fofoca é parente da informação. A primeira usa a segunda, ajudada muitas vezes por outra amiga próxima, a mentira, para disseminar a discórdia e a maldade ao seu redor.

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 A inveja pode abalar uma pessoa insegura. Mas serve de estímulo para quem sabe o que faz e o que gosta.

terça-feira, 5 de junho de 2012

CHEGAMOS AOS 30 MIL ACESSOS

Foi com muita alegria que notei, no mostrador de acessos do Vidacuriosa, o número 30.000. Não faz muito tempo que, por um problema técnico, tive de trocar de contador de acessos (estava com pouco mais de 10 mil) e agora, após o recomeço, chegamos aos 30 mil. A única coisa que não me deixa satisfeito é o fato de não ter conhecimento sobre o que os leitores acham do material. Sei da dificuldade que é conseguir tempo para entrar em um blog e, além disso, há uma imensa concorrência com outros blogs e demais atrativos de atenção, mas teria sido interessante se deixassem, nem que fosse rapidamente, a sua impressão. Não estou em busca de elogio, mas de possíveis críticas que certamente melhorariam o nível do trabalho.
Neste ano, os amigos que deixaram mensagens podem ser contados nos dedos de uma mão e ainda sobram quatro dedos. Por isso, quero agradecer nominalmente a Aldo Jung, Gisa Nunes Umpierre, Eduardo P.L, Dalva M. Ferreira, Letras Saltitando e Nadiane S. Momo Spencer que deixaram seus importantes recados. Obrigado mesmo.

sábado, 2 de junho de 2012

A ORIGEM DA EXPRESSÃO "CAPAZ" USADA PELOS GAÚCHOS

Os habitantes do Rio Grande do Sul falam uma expressão bastante interessante.  Quando querem expressar a ideia de que não farão absolutamente algo determinado ou que não vão se chatear com algo dito pelo outro dizem: Capaz!!  Não tenho nenhuma base científica para o que vou afirmar, mas enfim!  Para mim, a origem desse termo está baseada no fato de que os brasileiros, os outros não sei, costumam encurtar as palavras. Não sei se é por praticidade, pressa ou o quê, mas expressões que começam mais compridas, tendem a serem sincopadas. Um exemplo disso é o termo bá, que o gaúcho começou a usar para dizer que ficou impressionado ou admirado e agora usa para qualquer coisa, principalmente no início de frases. Tudo começou com ‘mas que barbaridade isso”, depois ficou “mas que barbaridade’,  foi encurtando para “que barbaridade” depois, “mais bá” e por último bá, que muitos grafam,não sei por quê, bah.
Voltando ao “capaz”, acredito que alguém com muito carisma pronunciou a expressão “não há a menor capacidade de eu fazer isso (ou de que isso aconteça). Daí foi passando para “não seria capaz de fazer isso”, passando para  um tom de ironia “eu seria bem capaz de fazer isso!” e “é bem capaz que eu vou fazer isso (ou que isso aconteça)!”, chegando finalmente em “capaz!”. Isso tudo pode não ter sido exatamente como digo já que não encontrei nada, por enquanto, nos livros antigos. Convenhamos porém, que faz sentido. Ou não? Se alguém com alguma informação sobre isso puder me ajudar, eu ficarei grato. Se me criticarem, capaz que eu vou me ofender.
       Para não ficar só no Rio Grande do Sul, observo que a palavra forró, dizem, seria uma abreviação de forrobodó, que significa confusão. Também não sei se é verdade porque há uma outra variante, lenda ou não, de que a origem teria sido na estada de engenheiros britânicos em Pernambuco encarregados da construção de uma ferrovia no início do Século XX. Eles frequentavam bailes populares e observavam que os locais eram abertos para todos, “for all”. Dessa  pronúncia atrapalhada dos nordestinos, teria surgido o forró.