quinta-feira, 17 de novembro de 2011

MAIS UM ERRO EM PROPAGANDA DA CAIXA FEDERAL

A Caixa Federal não dá sorte com os anúncios históricos. Primeiro foi o Machado de Assis branco. Ele era mulato. A propaganda foi refeita, e o detalhe corrigido. Agora, com o Coruja, fizeram uma lambança. O apelido dele não tem nada a ver com ficar lendo de noite. Antônio Alvares Pereira ganhou essa alcunha quando era guri e estudava latim, em Porto Alegre, com o Padre Tomé de Souza. "Seus pais para sua estréia tinham-lhe mandado fazer uma casaquita de pano mescla, cor da pele do diabo ou cor de burro quando foge. Ao apresentar-se na aula pela primeira vez com este fato novo, gritou logo o Cândido Batista lá do seu banco da direita: Olhem, parece mesmo uma coruja. E como Coruja foi proclamado pelo Cabo-Regente, e como Coruja foi aclamado por toda a assembléia latinante: e Coruja
ficou, e... pegou" (Coruja, 1885/1996, p.88-89). Mais tarde, para desfazer qualquer confusão com um parente homônimo, que vivia se metendo em confusões, Antônio anexou o apelido Coruja ao seu nome.
Antônio foi suplente de deputado provincial e chegou a assumir o cargo. Com a retomada de Porto Alegre pelos imperiais, ele, que aderira à causa farroupilha, foi preso e mantido no navio-prisão Presiganga. Ao ser libertado, foi embora para o Rio de Janeiro. Morreu pobre, sustentado pelo filho adotivo.
 No vídeo da Caixa, dizem que Coruja era comendador. Comendador foi o filho, que usava o mesmo nome do pai adotivo, com o Coruja incorporado. Esse filho deve ter sido o cliente da Caixa, se foi mesmo correntista. Enfim, uma misturança.
Fico me perguntando se o pessoal da agência sabia o que estava fazendo, pretendendo com isso dar mais impacto à peça publicitária ou se foi por desconhecimento de um personagem que até mesmo a imensa maioria dos gaúchos nunca ouviu falar. Isso me remete ao premiadíssimo e denso curta-metragem Ilha das Flores, do gaúcho Jorge Furtado. O lixo, do qual pessoas se alimentavam, ficava na Ilha dos Marinheiros e não na Ilha das Flores. Como o segundo nome se adequava mais ao roteiro e ao texto do excelente filme, o diretor optou por cometer um pequeno erro geográfico. É a tal licença poética, da qual já ouvi falar. A história localiza Porto Alegre e até o bairro da zona sul da Capital onde o tomate foi plantado, mas troca o nome do local do lixão. O pessoal da llha das Flores não deve ter gostado, se é que viu o filme. Apesar desse deslize, eu achei o documentário sensacional. Curta também:




 * Fontes: Antiqualhas, Reminiscências de Porto Alegre, de Antônio Álvares Pereira Coruja, com pesquisas e notas de Sérgio da Costa Franco, 2ª edição ampliada, editada pela Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre em 1996.
* História Popular de Porto Alegre, Achylles Porto Alegre, Projeto Coruja, coordenação de Luís Augusto Fischer, editado pela Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre em 1994.
* A Escola e o Ensino em Porto Alegre, RS: Antigualhas do Professor Coruja, Maria Helena Camara Bastos, Doutora em História e Filosofia da Educação, PGE/PUCRS.

3 comentários:

  1. é uma pena um dia para lembrar dos negros. A história do nosso país deveria ser lembrada com naturalidade, sem data oficial. Infelizmente, vão-se as memórias, e fica o feriado.

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  2. Os dias de lembrança foram criados porque não há como recordar, todos os dias, de tudo o que realmente merece. Assim, os mais antigos organizaram a vida. Na verdade, é importante que, dando publicidade ou não, que pensemos, na medida do possível, em tudo que é necessário relembrar e reverenciar.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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