terça-feira, 31 de agosto de 2010

DECIFRANDO A LETRA DO CANTO ALEGRETENSE

Uma das músicas gaúchas mais famosas, o Canto Alegretense tem tido regravações por um número incontável de intérpretes e em vários idiomas. Para satisfazer a curiosidade de quem não conhece o linguajar campeiro, decidi decodificar a letra da música composta por Euclides Fagundes Filho, o Bagre, e o irmão dele, Antônio Augusto Fagundes.



Não me perguntes onde fica o Alegrete (1)
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete (2)
E ouvirás toque de gaita e violão
Pra quem chega de Rosário (3) ao fim da tarde
Ou quem vem de Uruguaiana (4) de manhã
Tem o sol como uma brasa que ainda arde
Mergulhado no Rio Ibirapuitã (5)
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura (6) das quebradas do Inhanduy (7)
E na hora derradeira que eu mereça
Ver o sol alegretense entardecer
Como os potros vou virar minha cabeça
Para os pagos no momento de morrer
E nos olhos vou levar o encantamento
Desta terra que eu amei com devoção
Cada verso que eu componho é um pagamento
De uma dívida de amor e gratidão...






1) Alegrete é um município localizado na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul às margens do Rio Ibirapuitã. Está localizada a 506 quilômetros de Porto Alegre. Tem uma população de 84.338 pessoas, conforme o censo do IBGE mais recente. Foi a terceira capital farroupilha, de 1842 a 1845.
2) Ginete: quem é bom cavaleiro, que sabe andar bem a cavalo, cavalariano, domador de cavalo, que participa de gineteadas (concursos de doma).
3) Rosário do Sul, cidade localizada 105km a leste de Alegrete. Por isso, quem chega de Rosário a Alegrete no fim da tarde vê o sol se pondo sobre o Rio Ibirapuitã.
4) Quem vem de Uruguaiana (cidade localizada na fronteira com a Argentina, a oeste de Alegrete) de manhã vê o sol nascendo sobre o Ibirapuitã.
(5) Ibirapuitã: rio que banha o Alegrete. É afluente do Rio Ibicuí e nasce em Santana do Livramento.
Foto de Aline Coimbra

(6) Flor de tuna: Flor de um tipo de cáctus.
(7) Camoatim: É uma espécie de abelha ou vespa, que existe na região da Campanha. É de cor preta e mede cerca de 11 mm de comprimento com dois traços amarelados transversais. Além de camoatim, também existe a lichiguana, que igualmente produz mel.
(8) Pedra moura: Tipo de pedra existente na Campanha, geralmente na margem de rios. É chamada de moura devido à cor escura. A relação com o nome deve provir da lembrança da época em que os árabes (mouros), de cor escura, dominavam
a península ibérica.

(9) Inhanduy: Rio em cujas margens surgiram as primeiras casas do que viria a ser o Alegrete. A capela existente no local acabou sendo incendiada em 1814, e a população se mudou para as margens do Ibirapuitã, onde está localizada hoje a cidade.