segunda-feira, 13 de abril de 2009

O HERÓI E A CELEBRIDADE

Outro dia comentei com colegas sobre a diferença entre herói e celebridade. Carente do primeiro, o povo se agarra no segundo como se as duas coisas fossem uma só. Mas não são. Herói, para mim, foi Jackson Jocelino Pioner, aquele policial militar de folga que acompanhava a mulher na saída do hospital e entrou no fétido Arroio Dilúvio para salvar da morte um homem que estava sendo espancado por outros marginais. Para o herói não importa quem seja a vítima.
Herói foi um menino que se arriscou em um incêndio para salvar uma criança no Centro do país ou outro que se jogou na água para resgatar um irmão no Interior do Estado. Herói é quem descobre a cura de uma doença grave. Entretanto, quem sabe os nomes desse tipo de profissional? Os heróis de hoje têm vergonha de serem reconhecidos até porque, para grande parte da população, atos de heroísmo não chamam muito a atenção. Não dão tanto ibope. Quando muito, os heróis recebem uma homenagem de algum político e depois logo são esquecidos.
Se os feitos saem na imprensa mais de três vezes, sempre existe alguém que se diz cansado dessa história. Inúmeros heróis morrem pobres e esquecidos. Já as celebridades são admiradas por grande parte da população, mesmo que nada tenham feito a não ser aparecer na televisão. Ao se tornarem celebridades, ganham dinheiro, passam a ter chances e só não aproveitam se forem totalmente desprovidas de talento. Habilidade ou conhecimento, aliás, não são qualidades exigidas para celebridades.
Elas são admiradas porque conseguem mudar de vida e ganhar dinheiro, posando para revistas ou fazendo comerciais. Neste país, até mesmo criminosos viram celebridade. Não me admira a situação se encontrar como está.
(Publicado no Diário Gaúcho na edição de 2 de abril)




Por falta de espaço, acabei não referindo outras pessoas que merecem a qualificação de herói.
Heróis são aqueles, que, mesmo sem um pai presente, vivendo sem conforto em lugares dominados pela criminalidade, conseguem lutar por uma situação melhor. São heróis por conseguirem superar as adversidades e não sucumbem para o crime. Esses, mesmo tendo muito pouco, ainda conseguem ajudar os outros e modificam suas próprias vidas.
Heroínas são as mulheres pobres que, mesmo abandonadas por seus parceiros, conseguem educar seus filhos para que sejam trigo nascendo no meio do joio. São heroínas que sofrem na carne e no espírito as agressões do meio e daqueles com quem convivem, mas seguem íntegras, transmitindo a sua ânsia de viver direito para seus descendentes.
Heroínas são as mulheres ricas que não se entregam às frivolidades que a boa situação social proporciona, que se emocionam com os necessitados e ajudam de alguma forma, seja materialmente, seja emocionalmente. Sim, essas heroínas existem. Mas, como disse no artigo, a maioria dos heróis são anônimos, não perseguem nem querem a fama, apenas sua merecida paz de espírito.
Heroínas e heróis são as professoras e professores que têm de enfrentar salário baixo e desrespeito por parte de alguns alunos que vêm de berços desguarnecidos e de pais de alunos despreocupados ou equivocados que não conhecem o sentido da palavra educar
.




5 comentários:

  1. Beleza de texto, Plínio! ... "a maioria dos heróis são anônimos, não perseguem nem querem a fama, apenas sua merecida paz de espírito." - me fez lembrar do poema de Antonio Machado:

    "Nunca perseguí la gloria
    ni dejar en la memoria
    de los hombres mi canción;
    yo amo los mundos sutiles,
    ingrávidos y gentiles
    como pompas de jabón."

    Abraço!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado Dalva. Que maravilha ter diante dos olhos um texto de Antonio Machado. Uma vez, durante uma aula de espanhol, li e decorei outro texto dele, que dizia:
    – Mi infancia, son recuerdos de un patio de Sevilla y un huerto claro de donde madura el limonero. Mi juventud, veinte años en tierra de Castilla. Mi historia, algunos casos que recordar no quiero.

    Abrs

    ResponderExcluir
  3. É isso ai, Plinio Nunes, muito bem. Dia desses carreguei no táxi uma ex-funcionária do Diário Gaúcho. Ela lembrou de alguns amigos da redação e citou o caro blogueiro como uma das pessoas mais queridas do jornal. Eu me apressei em comentar: "ele é meu amigo!".
    Há braços!!

    ResponderExcluir
  4. Meu caro Mauro

    Eu é que tenho o privilégio de tê-lo como amigo.
    Abraços.

    ResponderExcluir
  5. Relendo agora, me ocorreu acrescentar que heróis e heroínas são as pessoas que trabalham com pessoas com grandes deficiências mentais ou físicas, que não se intimidam com adversidades, que trocam fraldas, que suportam cheiro de fezes e urinas, babas e outros desconfortos dos quais a maioria das pessoas faz questão se manter distância.

    ResponderExcluir

E aí? Se der tempo, critique ou elogie. Se tiver problemas para acessar, entre como anônimo (e deixe seu nome no final, se quiser)