sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

UMA HOMENAGEM A UM HOMEM INESQUECÍVEL

Era um piá com cerca de 8 anos e costumava atravessar a pé um matagal nas proximidades de onde é hoje a Vila Vicentina, na zona norte de Bagé, para chegar em casa. O breu e o local deserto davam um certo medo, mas ele tinha um estratagema: assobiava o tempo todo e chamava dois cachorros pelos nomes. "Vamos Rex, vamos Sansão, ô cachorros brabos esses tchê. Os cães eram imaginários mas davam uma sensação de proteção para o menino, o quarto dos 10 filhos de um uruguaio com uma brasileira.
Ele foi crescendo e logo começou a trabalhar. Primeiro ajudando o pai, que era carpinteiro e trabalhava também como pedreiro. Já mais taludo, começou a comprar e vender couros. Com a ajuda do padrinho, conseguiu uma bolsa para estudar até o quinto ano primário no colégio salesiano Nossa Senhora Auxiliadora. Era bom de contas. Sabia somar e multiplicar de cabeça, com maestria.
Aos 21 anos, conheceu a mulher, com quem ficaria casado por mais de 50 anos. Entre os dois havia uma coincidência de datas de nascimento. Enquanto ela nascera em 4/4/1924, ele veio ao mundo em 22/2/1922. Para casar com ela, enfrentou a forte oposição do sogro. O pai dela, um uruguaio também foi rejeitado quando quis casar com a mãe dela, depois foi aceito. E fez o mesmo quando a filha se apaixonou. Mas o amor venceu.
Casado, ele morou em inúmeros lugares, foi dono de armazéns, passou por muitas dificuldades. Mas conseguiu, com a mulher, educar os seis filhos. Em determinado período, foi subprefeito e subdelegado do distrito de Seival, então pertencente a Bagé. No meio da noite, pelo menos uma vez ele precisou usar sua caminhonete para levar um homem esfaqueado durante uma briga em um jogo de bilhar na vila.
Ele andava no seu próprio veículo, fiscalizando as condições das estradas e consertando pontilhões caídos.
No início do casamento, não pôde contar com a herança da família da mulher. O avô dela, desconfiado do genro uruguaio, havia deixado seus bens gravados em cartório no sistema de usos e frutos. Assim, só podiam usufruir, mas não vender.
Proprietário de terras, plantou e também criou gado. A crise do trigo em 1966 e sua pouca habilidade para ganhar dinheiro, quase levou-o à ruína. Em 1967, um câncer na mulher fez com que boa parte dos seus bens fossem perdidos. Só anos mais tarde, quando novamente o câncer voltou a atingir a esposa, dessa vez de forma fatal, é que a totalidade dos filhos ficou sabendo do primeiro caso.
No começo da década de 70, resolveu mudar-se para Porto Alegre com a família. Antes de se estabelecer como dono de armazém na Cidade Baixa, o casal passou por momentos muito difíceis. Para sobreviver, tiveram de fazer bolos de laranja, quindins e rapadurinhas de leite, que eram entregues em bares e restaurantes das redondezas. Novos maus negócios os levaram de volta a Bagé. Nunca ninguém o viu se desesperar, queixar-se da vida.
O que ficou dele foi um caráter irrepreensível, um pai amoroso e enérgico ao mesmo tempo, que não hesitava em castigar os filhos quando era necessário.
Nas noites frias de inverno, diante da lareira do sobrado ou do fogo de chão no galpão, gostava de contar histórias.
Depois de 56 anos de casado, perdeu a companheira, vítima de câncer. Aos 81 anos, foi acometido do Mal de Alzheimer e também passou para o outro lado espiritual.
Neste dia 22 de fevereiro, que saudades de um homem maravilhoso, inesquecível, meu pai, Walter Vieira Nunes.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A HISTÓRIA DOS PEÕES QUE VIAJARAM PARA A ARÁBIA

Os dirigentes de uma construtora que tinha obras na Arábia ficaram preocupados porque os operários contratados em outros Estados do Brasil dormiam na ponta da pá ou se deitavam no chão durante o trabalho.
Daí que um especialista sugeriu que constratassem empregados no Rio Grande do Sul, onde o pessoal não é de capinar sentado.

Um emissário foi até a cidade de Bagé, na Campanha, e se reuniu com cerca de 200 operários.
– Vamos pagar bem, mas queremos gente trabalhadora– alertou o emissário.
– Mas bah! Nem te preocupa vivente – respondeu um gaúchão criado nas bandas de Seival.
– É só nos dar um carrinho de mão, uma pá, areia e cimento e nós erguemos um edifício que encosta no céu.
O grupo entrou no avião e se mandou para a Arábia Saudita. Quando chegou a
Riad, o aeroporto estava fechado. A aeronave teve de pousar no deserto.
Ao olhar pras dunas, o gaúchão não se conteve:

– A la putcha! Com esse montão de areia, na hora em que chegar o cimento, a gente tá fodido.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

A HISTÓRIA DO INVESTIGADOR VENTRÍLOQUO

Essa quem me contou foi o Ronaldo Bernardi, um dos repórteres fotográficos com o maior número de prêmios no Rio Grande do Sul. Diz que na década de 1980, havia um policial em uma determinada delegacia da Capital que tinha o dom do ventriloquismo e se divertia muito com isso. Quando os repórteres iam à DP em busca de notícias, ele costumava zoar com eles. Durante a conversa com os jornalistas, o policial usavam o seu dom e chamava a si mesmo sem que os interlocutores descobrissem que estavam sendo enganados.
- Fulano - dizia a voz que parecia vir do fundo da delegacia.
Os jornalistas não entendiam nada, e o próprio policial virava para trás e perguntava:
- Quem está me chamando?
E continuava conversando normalmente até que chamava de novo o próprio nome, fingindo surpresa. Seus colegas riam-se a mais não poder escondidos nos cantos.

A morta que falava

Um dia, uma mulher idosa foi assassinada a facadas, e a polícia desconfiou de um dos filhos dela. O tal policial-ventríloquo foi ao velório e se postou com uma falsa cara triste ao lado dos parentes na beira do caixão.
De repente, surgiu uma voz que parecia sair da própria morta e se dirigir a um dos filhos.
-Meu filho, por que tu me mataste? Eu gostava tanto de ti, sempre procurei de ajudar. Até pensei em deixar a maior parte da minha herança pra ti. Por que tu fizeste isso?
O filho ficou vermelho, todo mundo olhando pra ele, até que ele não resistiu e gritou, furibundo, apontando para a defunta:
_ Sua cadela mentirosa. Tu nunca gostou de mim, nunca me deu carinho. Tu gostava só dos meus outros irmãos. Por isso, tu mereceu as facadas que te dei!
Foi então que o policial deu voz de prisão ao assassino, sem precisar usar mais seu dom de ventríloquo.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

HUMOR JORNALÍSTICO

1) Repórter que escreve sobre música precisa conhecer a pauta.


2) Editor paga para não ver protestarem os seus títulos.


3) Telefonista competente é a que, mesmo com um leitor chato, nunca perde a linha.


4) A primeira impressão não é a que fica. É preciso acertar melhor o registro das imagens e cores.


5) Um jornalista não deve nunca revelar a fonte. Quem revela a fonte é indústria de água mineral.


6) O Centro de Tratamento de Imagem é mesmo a CTI do jornalismo: pega cada foto em estado lamentável para tratar.


7) Para jornaleiro que veste a camisa, cada jornal é exemplar.


8) Para jornalista preguiçoso que só usa Internet, o que cai na rede é peixe.


9) Repórter de rádio tem que estar sempre antenado.


10) Dependendo do chargista, o trabalho dele pode ser um risco.


11) Diagramador vaidoso sorri quando chega o espelho.


12) Há jornalistas que vêem os dois lados: o dele e o da empresa.







Para os leigos:
Pauta: o roteiro e o assunto para a reportagem.
Fonte: a pessoa com quem o jornalista consegue a informação.
Espelho: espelho, ou boneco eletrônico, é a disposição dos anúncios que irão na página.