segunda-feira, 29 de outubro de 2007

UMA HISTÓRIA COMPLICADA

Na cama do hospital, amarrado, ele ainda não havia entendido o que acontecera. O torpor de um poderoso calmante confundia-lhe as idéias. Horas antes, passara pelo período de maior adrenalina em toda a sua vida.
De repente, da calmaria na poltrona do ônibus, passou a viver emoções fortíssimas. Na janela, teve sua atenção despertada para um barulho muito forte na parte de baixo do veículo, seguido de um balanço esquisito, como se o carro fosse de um lado para o outro na pista.
   Os passageiros ficaram alarmados. Ele procurou as portas de emergência e aguardou, pressentindo o pior. Próximo a uma ponte, o ônibus se desgovernou, desceu uma ribanceira e seguiu paralelamente à rodovia e precipitou-se no rio.
Ágil, ele abriu a portinhola de emergência e subiu no teto, enquanto o ônibus afundava. As horas que passara na sanga, na longínqua infância na Campanha, lhe valeram agora. Ele se jogou na água e nadou rapidamente para a margem.
Na superfície das águas, nada restava do ônibus. Parou os primeiros carros que passaram, contou o que acontecera e pediu para que ligassem para a Polícia Rodoviária, enquanto tratava de salvar alguém. Na ânsia de liderar os salvamentos, pediu aos curiosos que tirassem os cintos e os cadarços dos sapatos para improvisar uma corda, caso fosse necessário puxar os feridos ou os corpos.
   Quando os patrulheiros e as ambulâncias chegaram, logo estranharam. Não havia qualquer sinal do ônibus no rio. Nem marcas havia no local onde o homem dissera que o veículo despencara.
   O que estava acontecendo? Molhado da cabeça aos pés, o homem insistia que estava falando a verdade. Tentou se jogar na água, alegando que cada minuto era importante para salvar a vida dos ocupantes do ônibus. Um dos policiais ligou então para a empresa de ônibus citada pelo homem. O veículo, que saíra de Bagé para a Capital já havia chegado sem problemas à rodoviária de Porto Alegre. Contatado, o motorista lembrou de um passageiro exaltado e com sintomas de síndrome de pânico. Ele havia exigido que o carro parasse e desceu justamente nas proximidades da ponte. Depois de aguardar alguns minutos, o homem fizera sinal para o motorista seguir viagem.
Levado a uma delegacia de polícia, o homem teve uma crise de choro e insistiu que precisava salvar os ocupantes do ônibus que caiu no rio. Após um desmaio, ele foi levado para um hospital.
   Numa cama de hospital, amarrado, ele ainda não havia entendido o que acontecera...
 

sábado, 20 de outubro de 2007

MICONGA PRECISA DE AJUDA


O ex-jogador Miconga está precisando de ajuda. Ex-volante do Bagé e do Guarany, ele hoje está doente, vive na cama, usa fraldas, não fala, mas entende tudo o que é dito. Seus familiares e amigos o ajudam como podem. Por iniciativa do jogador Darzone (aquele mesmo que, num ato impensado tirou do futebol um colega com uma agressão) o Guarany fez um jogo beneficente em que torcedores levaram alimentos não-perecíveis.
Luiz Carlos Silva Vaz, atualmente com 55 anos, está precisando de auxílio. Bem diferente daquele Miconga que agitava os jogos. Duas historinhas dele. Depois de muitos anos no Grêmio Bagé, contratado pelo Guarany, fez uma grande jogada no primeiro Baguá que disputou. Driblou toda a defesa do Bagé e saiu para comemorar o jogar o gol na frente da torcida jalde-negra, batendo no distintivo, que levava no peito. Quase apanhou. Em outro jogo, em 1988, foi expulso pelo árbitro Renato Marsiglia, então aspirante ao quadro da Fifa. No vestiário, um dirigente do Guarany quis saber o motivo da expulsão.
– Ele me xingou muito porque queria que eu interrompesse o jogo – explicou Marsiglia.
– Parar por quê?
– Queria procurar um pivô que caiu – revelou o juiz.



Não é preciso parar o jogo. Quem quiser ajudar o Miconga, pode entrar no site do Guarany de Bagé para conseguir contato com ele. http://www.portaldoguaranyfutebolclube.com.br/
(Foto de Sérgio Galvani)



Atualização acrescentada em 2010
Miconga faleceu em 14 de novembro de 2009.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O ALAMBRADOR VIOLINISTA

Quando eu era pequeno, em Bagé, quase não dormia direito na véspera do dia 1º de abril. Para nós, lá em casa, não era o Dia da Mentira, mas o Dia dos Bobos. Eu acordava cedo (quando não me acordavam) e passava o dia aplicando trotes nos familiares e amigos. Ao mesmo tempo, tentava me cuidar para não ser vítima.
Eu lembro bem. Para uns, principalmente os meus irmãos, eu dizia que a mãe estava chamando. Quando o irmão voltava, depois de ouvir a mãe dizer que ele estava ficando louco, que não havia chamado nada, eu cantava: "Primeiro de abril, primeiro de abril".
Não foram poucas vezes também que caminhei no sol para ir até onde estava o meu pai, depois de receber recados falsos dos irmãos ou de amigos. Logo que caía na esparrela, já pensava na maneira de me vingar em alguém.
Passada a infância, o Dia 1º de Abril deixou de ser o Dia dos Bobos, mas o Dia da Mentira. Abomino a mentira maldosa, com más intenções, mas adoro a mentira criativa, que é chamada também de ficção. Abaixo, um texto que criei pensando em participar do Festival de Nova Bréscia e nunca tive coragem de me inscrever.


O ALAMBRADOR E O CONCERTO CAMPESTRE


Nas bandas do Seival, num tempo em que ainda era 3º Distrito de Bagé, vivia um alambrador pra lá de competente. Encarregado de manter firmes os arames da propriedade do meu pai, na costa do Rio Jaguarão Grande, o rapaz era o melhor alambrador daquela região. Pensando bem, era o melhor alambrador de Bagé. E, se era o melhor de Bagé, certamente era o melhor alambrador do Rio Grande do Sul. Por conseqüência, do Brasil. Quiçá do mundo.
Os arames que ele estendia eram bem esticados. Para isso, tinha uma máquina que repuxava os fios por dentro dos moirões e tramas caprichosamente perfurados por uma pua. Aramado que esse alambrador tocava não arrebentava nem com touro bravo nem com queda de galho de eucalipto.
Pois foi então que, um dia, meu pai trouxe o alambrador a Porto Alegre. Ele tinha de examinar um material que seria comprado para uma nova cerca. Além disso, meu pai quis satisfazer um desejo dele de conhecer a Capital. Levei-o então para o Theatro São Pedro, para a Casa de Cultura Mario Quintana, para o Teatro de Câmara e onde quer que a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre se apresentasse. O alambrador ouvia embasbacado as apresentaçõs musicais. E, no final, se esquecia no palco ou nas coxias, conversando com os músicos, especialmente os violinistas.
Ele gostou tanto de ouvir música clássica que nos pediu para ficar mais uma semana na Capital. E dá-lhe shows, apresentações da Ospa e, por último, audições nos velhos discos da Discoteca Natho Henn, na Casa de Cultura.
Quinze dias depois, voltou à campanha para trabalhar nas terras onde aconteceu, em 10 de setembro, o Combate de Seival. Dois anos após, retornei a Bagé e fui visitar a fazenda. Ao subir uma coxilha a cavalo, ouvi de repente, na solidão e no silêncio do pampa, um som de música clássica. Achei que estava sonhando ou era miragem.
Quando subi ao topo da colina e olhei para a canhada, não acreditei na paisagem que se descortinava. A música vinha de um aramado no canto, ao lado de uma sanga. Com um arco feito a mão com madeira de pitangueira e fio de crina de cavalo, o alambrador tirava acordes magníficos nas quatro cordas afinadíssimas do alambrado.
Ao me ver, ele abriu um largo sorriso e tocou uma música inteira de Paganini. Mais tarde, contou-me que, nas tardes em que o Minuano sopra com força na região, vindo da Argentina para se dirigir ao Uruguai, o violino campestre produz sons lindíssimos. Como não gravei nem a cena nem a música e sequer fotografei o local, certamente alguém irá pensar que é mentira.

sábado, 13 de outubro de 2007

NOVA VERSÃO DE A CIGARRA E A FORMIGA

Num canto da casa,
o marido escrevia.
Satisfeito, pingou o
ponto final na poesia.
Falava de amor, de
beleza e de melancolia.
Resolveu ir então à cozinha
para dividir essa alegria.

Curvada na mesa, a
mulher também escrevia.
Curioso, olhou por sobre
os ombros dela. O que seria?
Falava de abobrinhas,
pepinos, rúculas e sal,
temperos, açúcar e banhos-marias.

O homem riu e então
comparou com o que fazia.
E se sentiu o maior
poeta das cercanias.
Leu para ela a sua obra
e lhe pediu, com ironia:
– Leia para mim a sua, rainha minha.

Amuada, a mulher recolheu
seus papéis e voltou às panelas.
Como alguém podia
desprezar algo que era dela?
Passaram-se horas,
já era mais de meio-dia.
A barriga roncava
de tão vazia.

- Ô, mulher, tenho fome!
Dá-me pelo menos uma ambrosia.
Ela olhou-o nos olhos
como nunca fazia.
Num murmúrio franco,
disse apenas:
– Ora, pois, vá comer sua poesia.

(Plínio Nunes)

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

HISTÓRIA FICTÍCIA SOBRE A ORIGEM DO FUTEBOL NO PARALELO 31


Num tempo próximo a 1400, quando nenhum homem branco havia ainda pisado na região que viria a ser o Sul do Brasil, por ali circulavam dezenas de tribos. Os indígenas viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos. Para não desequilibrar a natureza, ou porque a caça e a pesca se tornavam mais difíceis depois de algum tempo, as tribos eram nômades. Ao mudarem de lugar, depararam com outros grupos. Havia então guerras por território e muitas mortes.
Na área localizada na altura do paralelo 31, onde hoje estão os munic¡pios de Bagé, Candiota, Hulha Negra, Dom Pedrito e uma parte do Uruguai, os índios mais aguerridos eram os guaranis. Quando se preparavam para a guerra, pintavam o corpo com listras verticais com o vermelho das pitangas e o branco das nuvens.
Um dia, preocupado com as constantes guerras que poderiam dizimar todas as tribos, o pajé dos guaranis ficou sete luas incomunicável, dentro de sua oca. Quando saiu, sentou-se no chão, com as pernas cruzadas, no centro da taba. E ficou mirando o céu. Os outros índios ficaram em silêncio, ao seu redor. Depois de sete horas, surgiu um ponto minúsculo no firmamento, muito além das nuvens. O ponto foi crescendo rapidamente até que os índios notaram que era algo descendo na direção deles. Quando puderam distinguir o objeto, perceberam que era uma espécie de coruja gigante, com luzes nas bordas e feita de um material que eles nunca haviam visto.
De dentro da ave, surgiu um homem de pele muito escura como as penas do anu. Tinha um sorriso alvo e constante. Era alto e forte. Seu corpo era coberto por vestes de duas partes. Uma ia do pescoço até a cintura, com buracos para a passagem dos braços. Da cintura para baixo, era uma tanga mais comprida que ia até os joelhos. No peito, quase em cima do coração, um pequeno desenho que ninguém na tribo podia decifrar. Um dos riscos parecia uma cobra, outro uma meia lua. Nas costas, havia um desenho de um tronco fino e ereto de árvore, sem folhas nem galhos, ao lado de uma espécie de lago redondo.

O desconhecido mantinha o objeto esférico sob o controle dos pés como se estivesse amarrado com cipó


Nas mãos, o homem carregava um um objeto redondo, semelhante à lua ou ao sol, só que opaco e provavelmente oco. Enquanto falava com o pajé, que parecia já o estar esperando, o homem jogava o tal objeto contra o chão e ele pulava de volta para as suas mãos. O desconhecido foi caminhando ao mesmo tempo em que mantinha o objeto sob o controle de seus pés como se estivesse amarrado com um cipó invisível. Ele, o pajé e o cacique entraram na oca e ficaram conversando por cinco horas. Depois, o desconhecido entrou na coruja misteriosa, que levantou vôo e sumiu no céu tão rapidamente como havia chegado.
O pajé reuniu a tribo e disse que o visitante era um enviado de Tupã que viera ensinar uma maneira de substituir a guerra entre os homens. Por ordem do cacique, o pajé reuniu 22 índios jovens e começou a ensiná-los a praticar o jogo sugerido pelo homem da coruja. Em uma clareira, foi feito um traçado retangular no chão. No meio das duas linhas mais curtas, o pajé mandou os índios cravarem dois pedaços de madeira com quase três metros de altura, encimados por uma barra horizontal, também de árvore, amarrada com cipó nos dois postes.
O jogo consistia em fazer com que o objeto redondo fosse impulsionado com os pés para passar por baixo daquela espécie de arco quadrado. Não usavam as mãos e braços utilizados nas guerras para disparar flechas e empunhar tacapes assassinos. A apenas um jogador era permitido usar as mãos para tentar impedir a passagem da esfera. Como o representante de Tupã não deixou o seu esférico, os índios construíram um com casco de tatu costurado com pele de lobo guará, já que ainda não havia vacas naquela região. Ao esférico deram o nome de pelota ou bola.
Divididos em dois grupos de 11, os índios passaram a jogar no intervalo das atividades que faziam em busca de alimentos. Chutavam a pelota e as canelas uns dos outros.

Encontro que resultaria em mortes acabou se transformando no primeiro jogo de futebol na região

Muitas luas depois, em suas andanças, os guaranis depararam, no atual território de Bagé, com os ibagés, e houve um confronto. De um lado, os guaranis, pintados de vermelho e branco; de outro os ibagés, com rosto e corpo apresentando listras grossas em amarelo e preto. Os guaranis os chamavam de abelhas.
Diante da bravura dos dois grupos, o cacique e o pajé dos guaranis propuseram um novo desafio aos inimigos: eles disputariam o novo esporte ensinado pelo enviado de Tupã. Quem perdesse, iria procurar outras terras, distantes dali. Os ibagés tomaram conhecimento do jogo e das regras e toparam mesmo sem ter muito treinamento. Três luas depois, houve o jogo no local onde hoje é a Praça de Esportes, em Bagé. A partida terminou em 2 a 2.
O jogo havia sido leal e então as duas tribos ficaram na mesma área, porém, afastados suficientemente para impedir uma mistura. Em vez de guerrear, os dois grupos passaram a jogar com freqüência.

A morte do jogo na chegada da nova religião na região do Paralelo 31 e a ressurreição na Praça da Matriz

Por volta de 1600, quando os espanhóis trouxeram os padres, o jogo acabou. A nova religião eliminou completamente o costume. A adoração ao novo deus não permitia outras paixões. Uma lavagem cerebral apagou o futebol e as canchas de jogo na região. No lugar do esporte, vieram novas guerras. Na luta entre as nações conquistadoras, conchavos propondo troca de territórios, acabaram eliminando a maioria dos índios.
Em 1907, um grupo de jovens bajeenses estava sentado em bancos da Praça da Matriz, quando foi tomado pelos espíritos de 11 índios guaranis que viveram na era dos jogos. Como o homem da coruja misteriosa, os espíritos sopraram a idéia da criação de um time de futebol. O time teria camisetas vermelho e branco e um distintivo que lembrava o que havia no peito do emissário de Tupã. Só que no lugar do S foi colocado o G. E assim surgiu o Guarany Futebol Clube, que nunca mais morreu. Em 19 de abril de 2007, o clube completou o seu centenário.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

CHORAM MARIAS E CLARICES NO SOLO DO BRASIL

                                                    Video acrescentado em 12/7/2011

Afinal, quem é Maria e quem é Clarice?


Outro dia eu estava ouvindo uma música da inesquecível e insubstituível Elis Regina, quando parei para pensar na letra e me chamou a atenção o seguinte verso: "Choram marias e clarices, no solo do Brasil. Eu sabia quem era a Maria, mas fiquei curioso em descobrir quem era a Clarice.
Perguntei a uma série de pessoas das minhas relações, inclusive jornalistas, e ninguém respondeu de cara. Alguns achavam que tinha a ver com a escritora Clarice Lispector. Não tem.
Foi aí que decidi decodificar aqui a letra de O Bêbado e a Equilibrista, composta pelo carioca Aldir Blanc e pelo mineiro João Bosco e lançada em 1979 pela gaúcha Elis.
A música, criada no auge da ditadura, foi considerada como o hino da anistia. Vamos à letra:
"Caía a tarde feito um viaduto e um bêbado, trajando luto, me lembrou Carlitos." Como pode uma tarde cair como um viaduto? Pensei, pensei e me lembrei que um viaduto havia ca¡do no Rio lá por aquela época. Uma consulta ao Google me salvou. Em 20 de novembro de 1971, o Viaduto Paulo de Frontin, na Tijuca, caiu, causando a morte de 29 pessoas e ferimentos em outras 30. Havia denúncias de corrupção e desvios de verbas e, assim como outras grandes tragédias, ninguém foi responsabilizado. Mais pesquisas e entendi a frase no início da música. A tarde caía abruptamente como a queda do viaduto Paulo de Frontin. O sentido era observar metaforicamente a então situação do país, onde a mudança política ocorreu também de forma abrupta com o golpe militar. O bêbado trajava luto pelas mortes dos que lutavam contra a repressão e lembrava Carlitos, um personagem de Charles Chaplin que simbolizava a crítica de um marginalizado da sociedade ao capitalismo mundial. Chaplin morreu em 1977.
A lua, tal qual a dona de um bordel, pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel.
Nunca falei com Aldir Blanc nem pude constatar isso em livros e Internet, acho que, sem poder contestar abertamente a nova política antidemocrática estabelecida, a lua provavelmente se refere às autoridades que acreditavam estar em um país de paz e felicidade. Provavelmente faz menção velada a músicas ufanistas como "as praias do Brasil ensolaradas...eu te amo meu Brasil, eu te amo, e a outras camadas que apoiaram o golpe ou tiveram medo de provocar os militares.
Nuvens, feito um mata-borrão no céu chupavam manchas torturadas. Que sufoco! Louco, o bêbado de chapéu coco fazia irreverências mil, à noite do Brasil.
Uma referência quase clara à tortura no chamado per¡odo de chumbo. A irreverência do bêbado é uma contestação aos dias (e noites) vividos no Brasil naquele per¡odo de 1964 até a data da anistia, em 1979.
Meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henfil e tanta gente que sumiu num rabo de foguete. Chora, a nossa pátria mãe gentil, choram marias e clarices, no solo do Brasil.
O irmão do Henfil é o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que estava exilado e que pouco antes de morrer de Aids aos 61 anos, (era hemof¡lico e contraiu sangue contaminado) , criou a Campanha Contra a Fome e a Miséria. Henfil era cartunista combatido da ditadura. Nessa época, ele tinha uma coluna na Isto É onde escrevia cartas para a mãe dele, justamente dona Maria. Na coluna, dava notícia aos correligionários e toques para os militares. Henfil morreu em 1985 aos 44 anos. Além da mãe do Henfil, a música homenageava as marias-mães brasileiras. Clarice era a mulher do jornalista Vladimir Herzog, que foi chamado, em 1975, pelo DOI-Codi para explicar ligação com o Partido Comunista Brasileiro, na época clandestino, e apareceu enforcado. Foi confirmado que ele foi morto durante sessão de tortura.
Eu sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente. A esperança dança na corda banda de sombrinha, e a cada passo dessa linha pode se machucar. Azar, a esperança equilibrista sabe que o show de todo o artista tem que continuar.
Essa parte não precisa explicar, claro. Era isso.
A seguir, o bêbado e a equilibrista, na voz da maravilhosa Elis Regina.

VOCÊ SABIA?

... que o grande compositor Lupic¡nio Rodrigues compôs a música Felicidade (felicidade foi se embora e a saudade no meu peito ainda mora e é por isso que eu gosto lá de fora porque sei que a falsifdade não vigora) com apenas 17 anos?
... que não é verdade a idéia propalada de que a muralha da China seria a única construção humana que pode ser vista a olho nu a partir da Lua? Recentemente essa papagaiada foi desmentida. Os chineses vinham divulgando essa baboseira há bastante tempo, mas na verdade, por enquanto, não há qualquer edifício criado pelo homem que possa ser observado do satélite da Terra, ou do espaço sideral, sem a ajuda de instrumentos.

SOBRE A MISSÃO JORNALÍSTICA

Manoelito de Ornellas foi um grande jornalista gaúcho e nasceu há cem anos. Natural de Itaqui (RS), foi diretor da Biblioteca Pública do Estado. Morreu em 1969. Um dia encontrei esse texto em um livro dele e nunca mais esqueci.


Sobre a missão jornalística


O jornal pertence ao povo, aos leitores, antes de tudo. Não é uma fossa de ódio, de mesquinharias humanas; é uma cátedra que educa, que ilustra, que dignifica. Daí a responsabilidade imensa daqueles que se tornam donos de uma coluna de jornal. O leitor não coparticipa, nunca, das ojerizas de cunho estritamente pessoal que o jornalista deixa clara, ou subrepticiamente transparecer no que escreve. O leitor repele esse processo inferior.
(Manoelito de Ornelas)

CURIOSIDADE MATEMÁTICA

+Já faz um tempo que conheci essa brincadeira, mas nunca mais esqueci.
É o seguinte:
Se você seguir as indicações que eu passar, terei condições de ler o seu pensamento.
Pense em um número entre 1 e 9.
Multiplique por 9 o número que escolheu.
Pegue esse resultado e some os dois algarismos, um com o outro.
Do resultado dessa soma, diminua 5.
Veja a que letra do alfabeto corresponde o número que resultou dessa diminuição
Escolha rapidamente um país com essa letra.
Agora pegue a quinta letra desse país e escolha também rapidamente um animal de zoológico com essa letra.

Vou adivinhar que país e que animal você escolheu.
Resposta mais embaixo:











Resposta: Dinamarca e macaco.



Explicação do mistério

Todo número entre 1 e 9 multiplicado por 9 dá um resultado no qual a soma dos dois algarismos entre si dá sempre 9. Exemplo: 4 x 9=36 (3+6=9), 7 x 9 = 63 (6 +3=9) 3 x 9= 27 (2+7=9)
Daí que pedindo para subtrair cinco desse resultado, vai dar sempre 4. E, na ordem alfabética, 4 é D. Quando se pede um país com essa letra, o primeiro que aparece é Dinamarca, por ser o único conhecido (há dois ou três outros, mas ninguém lembra). A quinta letra de Dinamarca é M. Pede-se um animal de zoológico para induzir o nome do macaco. Se fosse só animal, alguém poderia vir com mosquito, mamute, morsa ou qualquer outro, estragando tudo.
Abrs.




AFINAL, O QUE SÃO BUGALHOS?

                                                                       Acrescentado em 10/11/2016

Quando li pela primeira vez a expressão "não confunda alhos com bugalhos", não parei pra pensar no significado de palavra por palavra. Entendi apenas que não se deveria fazer confusão entre uma coisa e outra, certamente parecidas.
Mas, um belo dia, perguntei a mim mesmo: Afinal, que diabos são bugalhos? E por que alguém iria confundir com alhos? Uma ida ao dicionário não solucionou o problema, mas me deu chance de raciocinar e entender a questão.
Diz o Aurélio que bugalho é "galha arredondada ou coroada de tubérculos que se forma nos carvalhos". Diz ainda que bugalho é o globo ocular.
O que eu queria saber, porém, era a relação com alho. Num átimo, percebi. No popular, bugalhos são bolotas existentes no carvalho, brancas e mais ou menos redondas como os alhos. Daí a possibilidade de alguém confundi-los. Sobre o globo ocular‚ porque também‚ é semelhante ao bugalho, mais ou menos redondo e branco. Por isso, chama-se de "esbugalhados", os olhos bem abertos, brancos como bugalhos. Eu só precisaria saber se esses "tubérculos" do carvalho podem ou não se desprender da árvore e cair no chão. Nesse caso, haveria chance de serem confundidos com cabeças de alho.

  Os amigos que comentaram este post me ajudaram. Especialmente, o português Antônio Pinto de Magalhães, que me esclarece o motivo de uma possível confusão de alhos com bugalho. É que a bolota, fruto do carvalho, é descascada para a feitura da farinha para o pão e fica igualmente branca.

Abaixo, segue a mensagem na íntegra, de Antônio, aqui e mais abaixo, nos comentários.

"A confusão está entre a bolota e o bugalho. Na verdade, a bolota,fruto do carvalho de que e fazia farinha para o pão, depois de descascada é exactamente da cor do alho e sujeita a confusão.
Ora, antigamente e ainda nos meus tempos, aqui em Portugal, chamavam às bolotas bugalhos e, daí o refrão "Não confundas alhos com bugalhos".
O bugalho é uma excrescência que nasce à volta de um ovo de vespa, colocado num ramo de carvalho, e de que o animal se alimenta passa de larva a linfa e de onde, finalmente sai como insecto perfeito. Também acontece o mesmo nos sobreiros e azinheiras.

António Pinto de Magalhães  

REINICIANDO O VIDACURIOSA

Com problemas no meu blog anterior, achei mais fácil criar um novo. Espero aprender a mexer com este aqui. No início, a ideia é copiar os textos que estavam no outro "vidacuriosa". Vou escolher os que considerei melhores e espero poder atualizar adequadamente este espaço.